Eduardo Nunes
O MOVIMENTO
O movimento, por vezes, é só o que importa. O mundo sempre girou e sempre girará; então, vamos acompanhá-lo.
Lembro-me de um tempo onde as ações continham objetivos, propósitos, significados. Atualmente está tudo tão pálido, automático, apenas movimento.
Lembro-me do gado passando pela rua em sentido único, guiados pelos peões. Admirava-me com aqueles mais ousados que fugiam da boiada em sentido oposto, questionando brevemente seu destino.
O homem domesticado segue o fluxo, o movimento, a moda. A matemática escolar nos ensinou: moda é o valor que acontece com mais frequência, o mais comum. O homem doméstico é comum.
Em um mundo de movimento, aqueles que vão contra a maré são taxados de desertores, egoístas, doentes; apesar de sua ousadia e determinação.
Admiro-me, sobretudo, com aqueles indivíduos que se detém por um instante, aqueles que não só se opõem à direção, mas, também, ao movimento. São esses os mais doentes e os mais saudáveis em nosso mundo; são esses os que buscam sentido para o movimento.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Blog com notícias diárias sobre a movimentação da comunidade de Presidente Venceslau e região.
Mostrando postagens com marcador Eduardo Nunes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Eduardo Nunes. Mostrar todas as postagens
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Eduardo Nunes
Eduardo Nunes
CARTA AOS ELEITORES
Chegou ao fim a invernada dos candidatos à eleição. Tudo já está decidido. Justo por estar consolidado esse episódio é que me pus a escrever; não desejaria lhe influenciar de forma alguma. Antes disso, venho através deste texto compartilhar alguns pensamentos que me inquietaram durante o período de campanhas eleitorais. Ressalvo ainda que o exposto nas linhas subsequentes é um relato de cunho totalmente pessoal; e meu objetivo mínimo é de que você compartilhe ou argumente em seu íntimo acerca destas minhas impressões.
Quando recordo da publicidade eleitoral recente, sinto profundo enjoo e repulsa. Há uma sensação de que somos tratados, enquanto eleitores, de forma sobrepujada pelos candidatos. Sinto mesmo algo como se eles (candidatos) pensassem que nossa crítica (de eleitor) é reduzida.
Minha primeira inquietação gira em torno daquelas campanhas políticas que preconizam a decência, a ética e a honestidade. Me questiono qual seria a necessidade dos candidatos em enfatizar tal pronunciamento. Vejamos: se vou votar em você, considero que, no mínimo, não roube meu dinheiro. Pois bem, não sei ao certo quando foi que a honestidade passou a ser considerada um diferencial no currículo do candidato; penso ser uma necessidade básica para que qualquer pessoa pleiteie este posto.
Outro atemorizante de meus pensamentos é aquele candidato que se apresenta enquanto caricatura. Talvez seja uma manobra para arrecadar votos a seu respectivo partido. Apesar desta justificativa, me pergunto qual o motivo que me faria votar em um desses “alegres” candidatos. Pena? Falta de esperança ou indiferença? Por protesto? Seria o equivalente a abrir minha carteira e rasgar meu dinheiro – em protesto, é claro.
Tenho também (e provavelmente não sou o único), a ligeira impressão de que alguns candidatos fizeram curso de hipnose, pois não se ouve outra coisa em algumas publicidades que não um número repetido “n” vezes. Onde estão as propostas, os argumentos e as ideologias para o futuro? Esses candidatos deveriam saber que nem todo mundo é suscetível a entrar em transe hipnótico e que muitos eleitos prefeririam ouvir estratégias para o funcionamento público efetivo. Seriam os candidatos tão “rasos” assim a ponto de apelarem para essa técnica sugestiva?
A inflamação dos discursos às vezes passa dos limites, em minha opinião. Tem candidato que fala “bom dia” com três pontos de exclamação: BOM DIA!!! Salvo que estejamos no Maracanã assistindo a final da copa ou em algum “evento” religioso, penso ser desnecessária toda essa emotividade. Não estamos em guerra ou em palestras motivacionais! Discursos deveriam ter um “q” de mais racionalidade e objetividade.
O quinto e último ponto trata da ousadia de algumas promessas. Presenciei alguns candidatos apresentando como se fosse de sua autoria algumas políticas públicas de âmbito federal, portanto que fazem-se obrigatórias (em sua maioria) à implantação e desenvolvimento por parte da esfera municipal. Outras promessas vão além. Promessas tão utópicas que reluto em acreditar que o candidato esteja sendo sério em seu argumento. Escuto, tentando encontrar aonde se esconde a piada. Me questiono em qual realidade escolar pensam os candidatos para propor a distribuição de aparelhos tecnológicos individualizados aos alunos da rede municipal. Seria lógico deixar professores desmotivados financeiramente, escolas sucateadas e oferecer esse tipo de aparelho para os alunos? Ainda estou procurando o humor nesta e em outras promessas do gênero.
Caro eleitor, passamos por tudo isso nesses dias e, por mais absurdo que possa parecer, essa alegoria publicitária toda está aí muito pela nossa permissividade. Sejamos mais críticos e seletivos àqueles que pleiteiam nossas escolhas. Temos o terrível defeito de jogar ao tempo e aos outros a responsabilidade de mudança quando deveríamos nós mesmos começar a argumentar em favor dela. O período eleitoral pode parecer uma grande festa, mas as escolhas nele tomadas sempre trarão consequências. Espero que tenhamos uma atitude mais descomedida e que cobremos um compromisso maior dos candidatos com as propostas e os planejamentos para o bem público daqui a dois anos.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
CARTA AOS ELEITORES
Chegou ao fim a invernada dos candidatos à eleição. Tudo já está decidido. Justo por estar consolidado esse episódio é que me pus a escrever; não desejaria lhe influenciar de forma alguma. Antes disso, venho através deste texto compartilhar alguns pensamentos que me inquietaram durante o período de campanhas eleitorais. Ressalvo ainda que o exposto nas linhas subsequentes é um relato de cunho totalmente pessoal; e meu objetivo mínimo é de que você compartilhe ou argumente em seu íntimo acerca destas minhas impressões.
Quando recordo da publicidade eleitoral recente, sinto profundo enjoo e repulsa. Há uma sensação de que somos tratados, enquanto eleitores, de forma sobrepujada pelos candidatos. Sinto mesmo algo como se eles (candidatos) pensassem que nossa crítica (de eleitor) é reduzida.
Minha primeira inquietação gira em torno daquelas campanhas políticas que preconizam a decência, a ética e a honestidade. Me questiono qual seria a necessidade dos candidatos em enfatizar tal pronunciamento. Vejamos: se vou votar em você, considero que, no mínimo, não roube meu dinheiro. Pois bem, não sei ao certo quando foi que a honestidade passou a ser considerada um diferencial no currículo do candidato; penso ser uma necessidade básica para que qualquer pessoa pleiteie este posto.
Outro atemorizante de meus pensamentos é aquele candidato que se apresenta enquanto caricatura. Talvez seja uma manobra para arrecadar votos a seu respectivo partido. Apesar desta justificativa, me pergunto qual o motivo que me faria votar em um desses “alegres” candidatos. Pena? Falta de esperança ou indiferença? Por protesto? Seria o equivalente a abrir minha carteira e rasgar meu dinheiro – em protesto, é claro.
Tenho também (e provavelmente não sou o único), a ligeira impressão de que alguns candidatos fizeram curso de hipnose, pois não se ouve outra coisa em algumas publicidades que não um número repetido “n” vezes. Onde estão as propostas, os argumentos e as ideologias para o futuro? Esses candidatos deveriam saber que nem todo mundo é suscetível a entrar em transe hipnótico e que muitos eleitos prefeririam ouvir estratégias para o funcionamento público efetivo. Seriam os candidatos tão “rasos” assim a ponto de apelarem para essa técnica sugestiva?
A inflamação dos discursos às vezes passa dos limites, em minha opinião. Tem candidato que fala “bom dia” com três pontos de exclamação: BOM DIA!!! Salvo que estejamos no Maracanã assistindo a final da copa ou em algum “evento” religioso, penso ser desnecessária toda essa emotividade. Não estamos em guerra ou em palestras motivacionais! Discursos deveriam ter um “q” de mais racionalidade e objetividade.
O quinto e último ponto trata da ousadia de algumas promessas. Presenciei alguns candidatos apresentando como se fosse de sua autoria algumas políticas públicas de âmbito federal, portanto que fazem-se obrigatórias (em sua maioria) à implantação e desenvolvimento por parte da esfera municipal. Outras promessas vão além. Promessas tão utópicas que reluto em acreditar que o candidato esteja sendo sério em seu argumento. Escuto, tentando encontrar aonde se esconde a piada. Me questiono em qual realidade escolar pensam os candidatos para propor a distribuição de aparelhos tecnológicos individualizados aos alunos da rede municipal. Seria lógico deixar professores desmotivados financeiramente, escolas sucateadas e oferecer esse tipo de aparelho para os alunos? Ainda estou procurando o humor nesta e em outras promessas do gênero.
Caro eleitor, passamos por tudo isso nesses dias e, por mais absurdo que possa parecer, essa alegoria publicitária toda está aí muito pela nossa permissividade. Sejamos mais críticos e seletivos àqueles que pleiteiam nossas escolhas. Temos o terrível defeito de jogar ao tempo e aos outros a responsabilidade de mudança quando deveríamos nós mesmos começar a argumentar em favor dela. O período eleitoral pode parecer uma grande festa, mas as escolhas nele tomadas sempre trarão consequências. Espero que tenhamos uma atitude mais descomedida e que cobremos um compromisso maior dos candidatos com as propostas e os planejamentos para o bem público daqui a dois anos.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Eduardo Nunes
Eduardo Nunes
DITADURA DISFARÇADA
Essa semana foi prorrogado (em 6 meses) o prazo para o início da fiscalização da lei que determina que motoristas de caminhões sejam obrigados a dormirem durante certos períodos da sua jornada de trabalho. E o que isso tem demais?
Temos aí um exemplo claro de “contaminação” do espaço privado pelo poder público. Uma lei como esta, para além de sua aplicabilidade e justificativa manifesta - a de prover segurança nas estradas, talvez! - carrega em si, subliminarmente, a mensagem de que os motoristas não são capazes de determinar quando e quanto devem dormir. O governo tirará do motorista de caminhão a liberdade de zelar pelo próprio sono.
É evidente que muitos motoristas abusam de drogas estimulantes para aumentar sua jornada de trabalho e põe em risco aqueles que com eles dividem as rodovias. Entretanto, uma série de outras medidas poderiam ser tomadas para amenizar esse problema, como: campanhas de conscientização da importância do sono, investimentos em outros meios de transporte (fluvial ou ferroviário) para as cargas, ou investimentos na pavimentação das estradas, a fim de que se tenha maior qualidade e velocidade na locomoção. Mas, o governo optou por usurpar a liberdade do motorista, obrigando-o a dormir. O que os governantes pensam? Talvez eles pensem que os motoristas odeiam tirar uma soneca.
Outro exemplo em que o governo tenta adentrar no espaço privado é o da famigerada 'lei da palmada". Não sou a favor de castigos físicos, pelo contrário, abomino-os, pois conheço a implicância destes na psiquê de uma criança. Ainda assim, considero um desrespeito com o povo a intenção desta lei. Primeiro porque penso que uma lei não resolveria o problema da má educação totalmente e segundo porque penso ser muito mais útil a distribuição de conhecimento do que uma imposição.
No Brasil (infelizmente) a descrença na justiça é grande e há sempre uma sensação de indiferença com a política, isto porque o Estado nasceu antes da Nação. Ou seja, as leis vêm de cima e a participação do povo é mínima. Preocupo-me, sobretudo quando os "supra-ternos" apresentam propostas em que minam o nosso direito à escolha, tratando-nos como se não tivéssemos a capacidade ou intelectualidade suficientes para conhecer as consequências de nossos atos.
Leis deveriam ser feitas para se infringir. Quando tentam contemplar a esfera da prevenção, deveriam se articular para não sucumbir com a liberdade e autonomia de seus usuários. Mas, quando assim o fazem, invadindo nossa privacidade, nossa individualidade, limitando nossa governança de nós mesmos, dá-me a impressão de estar vivendo em um regime totalitário, em uma ditadura latente e disfarçada.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
DITADURA DISFARÇADA
Essa semana foi prorrogado (em 6 meses) o prazo para o início da fiscalização da lei que determina que motoristas de caminhões sejam obrigados a dormirem durante certos períodos da sua jornada de trabalho. E o que isso tem demais?
Temos aí um exemplo claro de “contaminação” do espaço privado pelo poder público. Uma lei como esta, para além de sua aplicabilidade e justificativa manifesta - a de prover segurança nas estradas, talvez! - carrega em si, subliminarmente, a mensagem de que os motoristas não são capazes de determinar quando e quanto devem dormir. O governo tirará do motorista de caminhão a liberdade de zelar pelo próprio sono.
É evidente que muitos motoristas abusam de drogas estimulantes para aumentar sua jornada de trabalho e põe em risco aqueles que com eles dividem as rodovias. Entretanto, uma série de outras medidas poderiam ser tomadas para amenizar esse problema, como: campanhas de conscientização da importância do sono, investimentos em outros meios de transporte (fluvial ou ferroviário) para as cargas, ou investimentos na pavimentação das estradas, a fim de que se tenha maior qualidade e velocidade na locomoção. Mas, o governo optou por usurpar a liberdade do motorista, obrigando-o a dormir. O que os governantes pensam? Talvez eles pensem que os motoristas odeiam tirar uma soneca.
Outro exemplo em que o governo tenta adentrar no espaço privado é o da famigerada 'lei da palmada". Não sou a favor de castigos físicos, pelo contrário, abomino-os, pois conheço a implicância destes na psiquê de uma criança. Ainda assim, considero um desrespeito com o povo a intenção desta lei. Primeiro porque penso que uma lei não resolveria o problema da má educação totalmente e segundo porque penso ser muito mais útil a distribuição de conhecimento do que uma imposição.
No Brasil (infelizmente) a descrença na justiça é grande e há sempre uma sensação de indiferença com a política, isto porque o Estado nasceu antes da Nação. Ou seja, as leis vêm de cima e a participação do povo é mínima. Preocupo-me, sobretudo quando os "supra-ternos" apresentam propostas em que minam o nosso direito à escolha, tratando-nos como se não tivéssemos a capacidade ou intelectualidade suficientes para conhecer as consequências de nossos atos.
Leis deveriam ser feitas para se infringir. Quando tentam contemplar a esfera da prevenção, deveriam se articular para não sucumbir com a liberdade e autonomia de seus usuários. Mas, quando assim o fazem, invadindo nossa privacidade, nossa individualidade, limitando nossa governança de nós mesmos, dá-me a impressão de estar vivendo em um regime totalitário, em uma ditadura latente e disfarçada.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Eduardo Nunes
Eduardo Nunes
OS IGNORANTES SÃO MAIS FELIZES
Os ignorantes são mais felizes. Para além de qualquer “pré-conceito”, esta sentença tem sua justificativa e real valência. Sei, também, que esta sentença, postulada por Clarice Lispector, pode figurar-se com características pessimistas e de menor valia para a vida, contudo, esses adjetivos não minimizam sua veracidade potencial.
Digo concordar que os ignorantes vivem mais felizes não por puro “achismo”, nem sequer pelo simples fato de reproduzir um dito que tornou-se popular, mas referendo-me nas biografias de grandes pensadores de nossa história. Spinoza, Nietzsche, Van Gogh e a própria Clarice Lispector, todos possuíam sombras enormes por detrás da beleza de suas produções. Não pretendo esmiuçar aqui a vida de nenhum destes, todavia, não são poucos os exemplos de intelectuais que tiveram grandes fissuras emocionais.
Talvez o “ignorantes” da frase supra posta não limite-se somente a intelectualidade propriamente dita, mas também a uma sensibilidade para perceber os movimentos do mundo que poucos dispõem. Ignorantes, portanto, seriam aqueles que não possuem essa sensibilidade. Também (é necessário que se exponha) descarto aqui qualquer evento ou habilidade sobre-humanas. Essa sensibilidade a qual me refiro tende mais a uma condição ímpar de olhar o obvio nos olhos. Confuso, não? Tentarei ser mais claro.
Todos nós, nascidos nesse mundo, passamos pela vida de forma única, vivenciamos experiências diferentes de qualquer outra pessoa no planeta. Ainda assim, quando olhamos mais a fundo, encontramos semelhanças em indivíduos superficialmente diferentes. É, pois, a capacidade de olhar esse ser cru, sem forma, rudimentar, em nós mesmos que chamo aqui de “sensibilidade”.
Se a crítica nos permitisse, veríamos que entre nós e um assassino ou um pedófilo ou qualquer outra classificação que a sociedade abomina e segrega, não existem muitas diferenças no que tange a características primitivas. Somos todos seres humanos (“humanos” aqui como substantivo). Esforçamo-nos constantemente para viver em sociedade; reprimimos sentimentos e desejos tão primitivos quanto aqueles que abominamos socialmente nos outros. Quando há em nós uma sensibilidade maior a esses sentimentos e desejos, quando nos damos conta deles, a surpresa e o terror são demasiados. O diferencial entre nós e um assassino (por exemplo) é que moldamos nossos sentimentos às atividades aceitas pela sociedade como a pintura, o artesanato, a uma reflexão intelectual. Quanta violência não há no esporte? Mas ela é direcionada a um fim, neste caso, a competição; portanto socialmente aceita.
Aí reside a diferença entre um “louco comum” e um “louco genial”: ambos conhecem a fundo seu lado animal, primitivo e rudimentar, todavia, o último utiliza para expressão do seu lado funesto um meio que colabora com a sociedade, um meio que seja humano. Ainda assim, gostaríamos de não encontrar com esse animal que nos habita, muitas vezes ele é difícil de ser domado, gera muito sofrimento; preferiríamos então viver na ignorância e relativamente mais felizes.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
OS IGNORANTES SÃO MAIS FELIZES
Os ignorantes são mais felizes. Para além de qualquer “pré-conceito”, esta sentença tem sua justificativa e real valência. Sei, também, que esta sentença, postulada por Clarice Lispector, pode figurar-se com características pessimistas e de menor valia para a vida, contudo, esses adjetivos não minimizam sua veracidade potencial.
Digo concordar que os ignorantes vivem mais felizes não por puro “achismo”, nem sequer pelo simples fato de reproduzir um dito que tornou-se popular, mas referendo-me nas biografias de grandes pensadores de nossa história. Spinoza, Nietzsche, Van Gogh e a própria Clarice Lispector, todos possuíam sombras enormes por detrás da beleza de suas produções. Não pretendo esmiuçar aqui a vida de nenhum destes, todavia, não são poucos os exemplos de intelectuais que tiveram grandes fissuras emocionais.
Talvez o “ignorantes” da frase supra posta não limite-se somente a intelectualidade propriamente dita, mas também a uma sensibilidade para perceber os movimentos do mundo que poucos dispõem. Ignorantes, portanto, seriam aqueles que não possuem essa sensibilidade. Também (é necessário que se exponha) descarto aqui qualquer evento ou habilidade sobre-humanas. Essa sensibilidade a qual me refiro tende mais a uma condição ímpar de olhar o obvio nos olhos. Confuso, não? Tentarei ser mais claro.
Todos nós, nascidos nesse mundo, passamos pela vida de forma única, vivenciamos experiências diferentes de qualquer outra pessoa no planeta. Ainda assim, quando olhamos mais a fundo, encontramos semelhanças em indivíduos superficialmente diferentes. É, pois, a capacidade de olhar esse ser cru, sem forma, rudimentar, em nós mesmos que chamo aqui de “sensibilidade”.
Se a crítica nos permitisse, veríamos que entre nós e um assassino ou um pedófilo ou qualquer outra classificação que a sociedade abomina e segrega, não existem muitas diferenças no que tange a características primitivas. Somos todos seres humanos (“humanos” aqui como substantivo). Esforçamo-nos constantemente para viver em sociedade; reprimimos sentimentos e desejos tão primitivos quanto aqueles que abominamos socialmente nos outros. Quando há em nós uma sensibilidade maior a esses sentimentos e desejos, quando nos damos conta deles, a surpresa e o terror são demasiados. O diferencial entre nós e um assassino (por exemplo) é que moldamos nossos sentimentos às atividades aceitas pela sociedade como a pintura, o artesanato, a uma reflexão intelectual. Quanta violência não há no esporte? Mas ela é direcionada a um fim, neste caso, a competição; portanto socialmente aceita.
Aí reside a diferença entre um “louco comum” e um “louco genial”: ambos conhecem a fundo seu lado animal, primitivo e rudimentar, todavia, o último utiliza para expressão do seu lado funesto um meio que colabora com a sociedade, um meio que seja humano. Ainda assim, gostaríamos de não encontrar com esse animal que nos habita, muitas vezes ele é difícil de ser domado, gera muito sofrimento; preferiríamos então viver na ignorância e relativamente mais felizes.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Eduardo Nunes
Eduardo Nunes
FICAR SÓ
Quem não gosta de um tempinho para si!? Ficar sozinho em uma sociedade nos moldes da nossa é uma conquista. Celulares, televisores, internet, família, trabalho, amigos, são tantos os recursos que nos ocupam que dispomos de pouquíssimo tempo para nos ater com nós mesmos.
No chuveiro, com a água a cair sobre nossa cabeça ou na cama, minutos antes de pegar no sono ou em qualquer outro momento em que damos uma fugidinha da realidade para pensar sobre o que estamos pensando; esses momentos são raros.
Nos surpreendemos quando nestes momentos, por vezes, encontramos soluções tão óbvias para nossos problemas. Através deles podemos rever nossos feitos diários e enxergar de forma mais clara nossas dificuldades, nossos defeitos, que com tão empenho escondemos de nós mesmos.
Um tempinho de paz, de calmaria pós-tempestade serve à alma muito bem. Em uma sociedade veloz, que exige tanto de nós, conseguir um tempinho do dia para pensar sobre si mesmo é relativamente difícil, porém pode ter grande significância para nossas vidas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
FICAR SÓ
Quem não gosta de um tempinho para si!? Ficar sozinho em uma sociedade nos moldes da nossa é uma conquista. Celulares, televisores, internet, família, trabalho, amigos, são tantos os recursos que nos ocupam que dispomos de pouquíssimo tempo para nos ater com nós mesmos.
No chuveiro, com a água a cair sobre nossa cabeça ou na cama, minutos antes de pegar no sono ou em qualquer outro momento em que damos uma fugidinha da realidade para pensar sobre o que estamos pensando; esses momentos são raros.
Nos surpreendemos quando nestes momentos, por vezes, encontramos soluções tão óbvias para nossos problemas. Através deles podemos rever nossos feitos diários e enxergar de forma mais clara nossas dificuldades, nossos defeitos, que com tão empenho escondemos de nós mesmos.
Um tempinho de paz, de calmaria pós-tempestade serve à alma muito bem. Em uma sociedade veloz, que exige tanto de nós, conseguir um tempinho do dia para pensar sobre si mesmo é relativamente difícil, porém pode ter grande significância para nossas vidas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Eleições
Eduardo Nunes
ELEIÇÕES
A imbecilidade está posta à mesa, alimentando mentes vazias. A troco de sal, as muralhas ideativas vão sendo derrubadas, se transformando em ruínas para as novas gerações admirarem, mesmo que, para elas, aquele monte de rochas caídas seja tão alheio.
As novas gerações não conseguem dimensionar a magnífica engenharia que aquelas ruínas denunciavam – passado é passado. Ora, os jovens são também frutos da imbecilidade de seus ascendentes; que culpa têm por não quererem mudar nada? Pelo menos podem conseguir o sal que é concreto e tateável... Dei-nos sal.
O sal pode ser seguro, tocado, manipulado, mas dissolve na água e, cedo ou tarde, a chuva cai. “Justiça tarda, mas não falha”... só faz vista grossa. Sal nos olhos pode cegar momentaneamente; sem falar na ardência. Mas a ardência passa.
Dei-nos sal, temperemos a imbecilidade que almejamos para o futuro e vamos deitar de barriga cheia à sombra das ruínas de nossos ideais.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
ELEIÇÕES
A imbecilidade está posta à mesa, alimentando mentes vazias. A troco de sal, as muralhas ideativas vão sendo derrubadas, se transformando em ruínas para as novas gerações admirarem, mesmo que, para elas, aquele monte de rochas caídas seja tão alheio.
As novas gerações não conseguem dimensionar a magnífica engenharia que aquelas ruínas denunciavam – passado é passado. Ora, os jovens são também frutos da imbecilidade de seus ascendentes; que culpa têm por não quererem mudar nada? Pelo menos podem conseguir o sal que é concreto e tateável... Dei-nos sal.
O sal pode ser seguro, tocado, manipulado, mas dissolve na água e, cedo ou tarde, a chuva cai. “Justiça tarda, mas não falha”... só faz vista grossa. Sal nos olhos pode cegar momentaneamente; sem falar na ardência. Mas a ardência passa.
Dei-nos sal, temperemos a imbecilidade que almejamos para o futuro e vamos deitar de barriga cheia à sombra das ruínas de nossos ideais.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Post do Eduardo Nunes
Eduardo Nunes
BULLYING
O que é Bullying? Alguns estudiosos nomearam atitudes de discriminação, violência física ou psicológica de bullying. Pra quê? A princípio poderíamos inferir que o bullying foi conceituado dentro do ambiente escolar para que os alunos (crianças e adolescentes) pudessem se proteger de abusos. Abusos de quem? Todos: professores, diretores, serventes, merendeiras, de outros alunos.
O fato é que o bullying foi sendo divulgado pela mídia junto a vídeos de brigas entre alunos (verdadeiramente épicas), abusos de autoridade de professores, etc. Tão amplamente fora divulgado que pulou os muros da escola e ganhou as ruas. “Bullying” popularizou-se no espaço escolar e designa muitas formas de abuso e em diferentes esferas da sociedade.
Atualmente (e isso fica explícito nos mecanismos de redes sociais que dispomos – Facebook, por exemplo), temos a tendência de reproduzir informações sem ao menos pensarmos sobre elas. Nossa crítica está diminuída. Com o bullying não é diferente: tudo virou bullying. O professor chamou a atenção do aluno: bullying; os amigos zombaram um colega: bullying; e por aí a fora.
O bullying virou sinônimo de qualquer situação que inflija desconforto à criança/adolescente. Talvez queiramos criar nossos filhos em redomas de vidro, não? Olhemos ao passado: quem de nós não foi zombado na escola ou não levou bronca de professores? Agora pergunto: essas situações fizeram de nós piores do que poderíamos ser?
Francamente, creio que não. Alguns hão de concordar que algumas broncas fizeram é muito bem para nós. Então porque essa necessidade de eximir completamente nossos filhos destas frustrações? São eles tão frágeis emocionalmente que não conseguiriam lidar com estas frustrações? São eles tão santos que não mereçam uma bronca vez ou outra?
O bullying existe. Em situações extremas de violência física e/ou moral, podemos usar o nome “bullying” – sob um olhar crítico. Olhar crítico este que deve atentar-se para o bullying que a mídia constrói, para o bullying que medicaliza crianças desde tenra idade e diferenciá-los do bullying real.
Brincadeiras e provocações sempre existiram; são, digamos, constituintes da personalidade humana, pois é através das diferenças que nos encontramos, que nos descobrimos. É o sofrimento que nos força a se mexer, a buscar soluções. Não estou defendendo uma vida baseada em masoquismo, longe disso; apenas questiono essa higienização exacerbada da infância. Deixemos nossos filhos também brincar na lama; é muito saudável.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
BULLYING
O que é Bullying? Alguns estudiosos nomearam atitudes de discriminação, violência física ou psicológica de bullying. Pra quê? A princípio poderíamos inferir que o bullying foi conceituado dentro do ambiente escolar para que os alunos (crianças e adolescentes) pudessem se proteger de abusos. Abusos de quem? Todos: professores, diretores, serventes, merendeiras, de outros alunos.
O fato é que o bullying foi sendo divulgado pela mídia junto a vídeos de brigas entre alunos (verdadeiramente épicas), abusos de autoridade de professores, etc. Tão amplamente fora divulgado que pulou os muros da escola e ganhou as ruas. “Bullying” popularizou-se no espaço escolar e designa muitas formas de abuso e em diferentes esferas da sociedade.
Atualmente (e isso fica explícito nos mecanismos de redes sociais que dispomos – Facebook, por exemplo), temos a tendência de reproduzir informações sem ao menos pensarmos sobre elas. Nossa crítica está diminuída. Com o bullying não é diferente: tudo virou bullying. O professor chamou a atenção do aluno: bullying; os amigos zombaram um colega: bullying; e por aí a fora.
O bullying virou sinônimo de qualquer situação que inflija desconforto à criança/adolescente. Talvez queiramos criar nossos filhos em redomas de vidro, não? Olhemos ao passado: quem de nós não foi zombado na escola ou não levou bronca de professores? Agora pergunto: essas situações fizeram de nós piores do que poderíamos ser?
Francamente, creio que não. Alguns hão de concordar que algumas broncas fizeram é muito bem para nós. Então porque essa necessidade de eximir completamente nossos filhos destas frustrações? São eles tão frágeis emocionalmente que não conseguiriam lidar com estas frustrações? São eles tão santos que não mereçam uma bronca vez ou outra?
O bullying existe. Em situações extremas de violência física e/ou moral, podemos usar o nome “bullying” – sob um olhar crítico. Olhar crítico este que deve atentar-se para o bullying que a mídia constrói, para o bullying que medicaliza crianças desde tenra idade e diferenciá-los do bullying real.
Brincadeiras e provocações sempre existiram; são, digamos, constituintes da personalidade humana, pois é através das diferenças que nos encontramos, que nos descobrimos. É o sofrimento que nos força a se mexer, a buscar soluções. Não estou defendendo uma vida baseada em masoquismo, longe disso; apenas questiono essa higienização exacerbada da infância. Deixemos nossos filhos também brincar na lama; é muito saudável.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Homem contemporâneo
Eduardo Nunes
HOMEM CONTEMPORÂNEO
Estou em constante mutação. Cada dia sou uma pessoa diferente. Adquiro experiência, aprendo com as vivências inéditas e me transformo; evoluo. Ainda assim, tenho pouca certeza sobre quem realmente sou e aonde quero chegar.
Na verdade, posso ser quem eu quiser, fazer o que quiser. Vivo em uma época onde há liberdade para escolhas; as regras são mínimas e facilmente burladas e a moral é sempre relativa, depende do interesse. Culpa? Tenho, claro que sim. Sofro muito com ela.
Não sei muito bem o que é certo ou errado, bom ou mau; ninguém nunca me disse, ninguém tem certeza plena sobre isso. Ajo e sofro, quase que automaticamente, sem me dar conta do porquê de estar sofrendo.
Não tenho certeza sobre nada, posso admitir. O que parece ser uma coisa hoje, amanhã pode ser outra. Aceito qualquer verdade que me ofereçam... desde que tenha algum sentido lógico para mim; também sou crítico, oras. Pena que mudo frequentemente de opinião.
Sou esse ser em mudança acelerada, ou deveria ser; é difícil afirmar com convicção. Sei, ao menos, que vivo; que vivo no presente, nesse mundo gigantesco – e assustador -, com contradições relativizadas e circunstanciais. Sou fruto dessa caótica liberdade, sou um ser contemporâneo.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
HOMEM CONTEMPORÂNEO
Estou em constante mutação. Cada dia sou uma pessoa diferente. Adquiro experiência, aprendo com as vivências inéditas e me transformo; evoluo. Ainda assim, tenho pouca certeza sobre quem realmente sou e aonde quero chegar.
Na verdade, posso ser quem eu quiser, fazer o que quiser. Vivo em uma época onde há liberdade para escolhas; as regras são mínimas e facilmente burladas e a moral é sempre relativa, depende do interesse. Culpa? Tenho, claro que sim. Sofro muito com ela.
Não sei muito bem o que é certo ou errado, bom ou mau; ninguém nunca me disse, ninguém tem certeza plena sobre isso. Ajo e sofro, quase que automaticamente, sem me dar conta do porquê de estar sofrendo.
Não tenho certeza sobre nada, posso admitir. O que parece ser uma coisa hoje, amanhã pode ser outra. Aceito qualquer verdade que me ofereçam... desde que tenha algum sentido lógico para mim; também sou crítico, oras. Pena que mudo frequentemente de opinião.
Sou esse ser em mudança acelerada, ou deveria ser; é difícil afirmar com convicção. Sei, ao menos, que vivo; que vivo no presente, nesse mundo gigantesco – e assustador -, com contradições relativizadas e circunstanciais. Sou fruto dessa caótica liberdade, sou um ser contemporâneo.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Namoro
Eduardo Nunes
NAMORO
Semana passada, na terça-feira, foi comemorado o dia dos namorados. Lembram-se disso? – temos muita facilidade em esquecer certas coisas. Como está o vosso namoro no dia de hoje? Ainda conservam o clima romântico da data ou as intrigas voltaram? – também temos facilidade em mudar de humor em pouquíssimo tempo.
Só quem já namorou sabe que o namoro acontece no dia-a-dia. Dias bons, dias ruins; a estabilidade, se vier, vem com o tempo. É natural, ora o namoro é o começo, o casal está se conhecendo, se adaptando um ao outro, e farão isso pelo tempo que durar a relação.
“Pelo tempo que durar a relação” porque o “felizes para sempre” está fora de moda. Talvez sempre estivesse, mas, em nossos dias, ele se tornou antiquado. Não que os casais atuais não queiram ser felizes (eles querem!), mas é que o “para sempre” é um tanto quanto utópico (e todos sabemos disso).
Namoro é construção, não apenas um status nas redes sociais. E como toda construção, o namoro exige dedicação, cuidado, esforço e zelo cotidianos. Pedreiro relaxado derruba a parede! Agravante, o namoro não tem fim, não pode se tornar uma obra acabada. Onde está o homem envolvido sempre há o que se descobrir.
Por ser construção infindável, o namoro está constantemente em transformação; pode vir a ser um noivado, adentrar pelo casamento e perpetuar-se como um estado de espírito do casal. Ou pode, simplesmente, acabar.
O fato é que o namoro não vive só na felicidade. Brigas acontecem. Cabe ao casal aprender com as discórdias e lutar no dia-a-dia por uma melhora na relação. É bem óbvio, não há receita mágica. Como em toda ação humana, se o namoro for construído sobre alicerces firmes, ele tende a durar.
Talvez esteja aí mais uma utilidade para o dia dos namorados: contar o tempo e relembrar a história do casal. Assim como fazem os aniversários de namoro, a data do primeiro beijo, o primeiro olhar, o primeiro filme, e por aí a fora. É o alicerce que sustenta o convívio diário e dá possibilidade a novos descobrimentos para o casal.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
NAMORO
Semana passada, na terça-feira, foi comemorado o dia dos namorados. Lembram-se disso? – temos muita facilidade em esquecer certas coisas. Como está o vosso namoro no dia de hoje? Ainda conservam o clima romântico da data ou as intrigas voltaram? – também temos facilidade em mudar de humor em pouquíssimo tempo.
Só quem já namorou sabe que o namoro acontece no dia-a-dia. Dias bons, dias ruins; a estabilidade, se vier, vem com o tempo. É natural, ora o namoro é o começo, o casal está se conhecendo, se adaptando um ao outro, e farão isso pelo tempo que durar a relação.
“Pelo tempo que durar a relação” porque o “felizes para sempre” está fora de moda. Talvez sempre estivesse, mas, em nossos dias, ele se tornou antiquado. Não que os casais atuais não queiram ser felizes (eles querem!), mas é que o “para sempre” é um tanto quanto utópico (e todos sabemos disso).
Namoro é construção, não apenas um status nas redes sociais. E como toda construção, o namoro exige dedicação, cuidado, esforço e zelo cotidianos. Pedreiro relaxado derruba a parede! Agravante, o namoro não tem fim, não pode se tornar uma obra acabada. Onde está o homem envolvido sempre há o que se descobrir.
Por ser construção infindável, o namoro está constantemente em transformação; pode vir a ser um noivado, adentrar pelo casamento e perpetuar-se como um estado de espírito do casal. Ou pode, simplesmente, acabar.
O fato é que o namoro não vive só na felicidade. Brigas acontecem. Cabe ao casal aprender com as discórdias e lutar no dia-a-dia por uma melhora na relação. É bem óbvio, não há receita mágica. Como em toda ação humana, se o namoro for construído sobre alicerces firmes, ele tende a durar.
Talvez esteja aí mais uma utilidade para o dia dos namorados: contar o tempo e relembrar a história do casal. Assim como fazem os aniversários de namoro, a data do primeiro beijo, o primeiro olhar, o primeiro filme, e por aí a fora. É o alicerce que sustenta o convívio diário e dá possibilidade a novos descobrimentos para o casal.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 4 de junho de 2012
O significado dos sonhos
Eduardo Nunes
O Significado dos Sonhos
Quando acordamos e lembramos nossos sonhos, ainda que cobertos com os mais variados sentimentos, encontramo-nos sempre em um estado de surpresa, como se no sonho fosse-nos revelado algo de uma vivência “supra-mundana”, transcendental.
Pesadelos ou não, os sonhos têm em geral esse sentido de comunicação, quiçá até de uma comunicação divina. Alguns são compreendidos como revelações, missões a serem empreendidas ou acontecimentos futuros. O fato é que sempre houve mistério em torno dos significados oníricos.
O que pensar sobre todo esse misticismo? Ceticismo ajuda? Talvez. Sonhos são construções mentais, feitos por nosso psiquismo para guardar nosso sono. Eles acontecem em sono profundo e auxiliam no relaxamento e descanso do corpo. Apenas isso? Não nos contentamos somente com essa explicação fisiológica. Sonhos são tão vívidos, tão cheios de sensações e sentimentos... Deve haver algo a mais por detrás deles! E certamente há.
Sonhos são narrativas de desejos que não podemos realizar enquanto estamos em vigília. Sabe aquele bolo de chocolate de aparência suculenta que você viu na vidraça da confeitaria e não pôde comprar por falta de dinheiro? É provável que venha a sonhar com ele. Acontece que nem sempre o significado dos sonhos é tão claro e direto como neste exemplo. Muito frequentemente os sonhos apresentam-se confusos, cheios de entraves, nebulosos e ambivalentes.
Deixamos de realizar muitos desejos durante toda nossa vida, mas podemos realizá-los em sonho. Se fizéssemos tudo o que desejássemos, mataríamos um chefe por dia, nossos pais a cada fim de semana e nossos filhos ao final de cada bimestre letivo. Nossa moral nos repudia somente por pensarmos nestes atos, ainda que saibamos que às vezes desejamos concretizá-los. Felizmente podemos sonhar!
Sonhar é liberar todos esses sentimentos e muitos outros mais de forma inofensiva para os outros e para nós mesmos. Por isso os sonhos têm conteúdo confuso: para que dêem vazão a sentimentos represados ao mesmo tempo em que preserva-nos da culpa de nosso desejo. Sonhar é entrar em contato com o que há de mais primitivo em nós mesmos. Felizmente podemos sonhar.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
O Significado dos Sonhos
Quando acordamos e lembramos nossos sonhos, ainda que cobertos com os mais variados sentimentos, encontramo-nos sempre em um estado de surpresa, como se no sonho fosse-nos revelado algo de uma vivência “supra-mundana”, transcendental.
Pesadelos ou não, os sonhos têm em geral esse sentido de comunicação, quiçá até de uma comunicação divina. Alguns são compreendidos como revelações, missões a serem empreendidas ou acontecimentos futuros. O fato é que sempre houve mistério em torno dos significados oníricos.
O que pensar sobre todo esse misticismo? Ceticismo ajuda? Talvez. Sonhos são construções mentais, feitos por nosso psiquismo para guardar nosso sono. Eles acontecem em sono profundo e auxiliam no relaxamento e descanso do corpo. Apenas isso? Não nos contentamos somente com essa explicação fisiológica. Sonhos são tão vívidos, tão cheios de sensações e sentimentos... Deve haver algo a mais por detrás deles! E certamente há.
Sonhos são narrativas de desejos que não podemos realizar enquanto estamos em vigília. Sabe aquele bolo de chocolate de aparência suculenta que você viu na vidraça da confeitaria e não pôde comprar por falta de dinheiro? É provável que venha a sonhar com ele. Acontece que nem sempre o significado dos sonhos é tão claro e direto como neste exemplo. Muito frequentemente os sonhos apresentam-se confusos, cheios de entraves, nebulosos e ambivalentes.
Deixamos de realizar muitos desejos durante toda nossa vida, mas podemos realizá-los em sonho. Se fizéssemos tudo o que desejássemos, mataríamos um chefe por dia, nossos pais a cada fim de semana e nossos filhos ao final de cada bimestre letivo. Nossa moral nos repudia somente por pensarmos nestes atos, ainda que saibamos que às vezes desejamos concretizá-los. Felizmente podemos sonhar!
Sonhar é liberar todos esses sentimentos e muitos outros mais de forma inofensiva para os outros e para nós mesmos. Por isso os sonhos têm conteúdo confuso: para que dêem vazão a sentimentos represados ao mesmo tempo em que preserva-nos da culpa de nosso desejo. Sonhar é entrar em contato com o que há de mais primitivo em nós mesmos. Felizmente podemos sonhar.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Super-Heróis
Eduardo Nunes
SUPER-HERÓIS
Na última semana estreou nos cinemas, com bilheteria recorde, mais um filme de super-heróis. Esse tema de filme vem ganhando espaço nas telonas e no gosto do público. “Por que heróis fazem tanto sucesso?” Eis a questão que me pus ao pensar nestes filmes.
Cravar uma única resposta possível não é minha intenção, até porque há uma gama significativa de situações que fazem esses filmes ganharem a atenção que ganham. Em uma análise superficial, rapidamente notamos que eles apresentam a antiguíssima e popular luta entre bem e mal, um romance ao fundo e a descoberta dos heróis de que possuem superpoderes (sua história). Esses componentes são suficientes para tomar a atenção de qualquer pessoa.
Não pude deixar de pensar também que esses filmes conseguem essa proporção de público por apresentarem heróis que são “sobre-humanos”, que detêm super-poderes. Sabemos que o sonho de poderes sobrenaturais acompanha o ser humano talvez desde sua origem. A mitologia grega é um bom exemplo.
Em nosso tempo, vivemos uma vida tediosa, densa, por vezes sem significados mais profundos. Se possuíssemos superpoderes estaríamos certamente livres dessa monotonia que se impõe quase que intransponível em nosso cotidiano; viveríamos, ao contrário, em um mundo de sonhos e aventuras, enfim, de liberdade.
Porém, com superpoderes, viveríamos em um mundo de justiça feita pelas próprias mãos. Talvez seja esse o grande trunfo no modo de vermos nossos heróis atuais: eles se libertam da rotina, fogem do mundo e, simultaneamente, das suas regras. Quem de nós não desejaria fazer o mundo ao seu próprio molde?
Os heróis que nos fazem lotar as salas de cinema por aí a fora são reflexos de nosso desejo de mudar o mundo ao nosso gosto, de ordená-lo segundo nossa ótica. O problema é que o mundo já está aí e depois de mais ou menos duas horas a telona se apagará, fazendo com que voltemos para a mesma realidade densa que antes havia.
Como ainda não possuímos superpoderes para mudar o mundo, deveríamos de início nos concentrar no que se apresenta mais efetivo: usar nossos poderes para mudar os aspectos desagradáveis de nossas próprias vidas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
SUPER-HERÓIS
Na última semana estreou nos cinemas, com bilheteria recorde, mais um filme de super-heróis. Esse tema de filme vem ganhando espaço nas telonas e no gosto do público. “Por que heróis fazem tanto sucesso?” Eis a questão que me pus ao pensar nestes filmes.
Cravar uma única resposta possível não é minha intenção, até porque há uma gama significativa de situações que fazem esses filmes ganharem a atenção que ganham. Em uma análise superficial, rapidamente notamos que eles apresentam a antiguíssima e popular luta entre bem e mal, um romance ao fundo e a descoberta dos heróis de que possuem superpoderes (sua história). Esses componentes são suficientes para tomar a atenção de qualquer pessoa.
Não pude deixar de pensar também que esses filmes conseguem essa proporção de público por apresentarem heróis que são “sobre-humanos”, que detêm super-poderes. Sabemos que o sonho de poderes sobrenaturais acompanha o ser humano talvez desde sua origem. A mitologia grega é um bom exemplo.
Em nosso tempo, vivemos uma vida tediosa, densa, por vezes sem significados mais profundos. Se possuíssemos superpoderes estaríamos certamente livres dessa monotonia que se impõe quase que intransponível em nosso cotidiano; viveríamos, ao contrário, em um mundo de sonhos e aventuras, enfim, de liberdade.
Porém, com superpoderes, viveríamos em um mundo de justiça feita pelas próprias mãos. Talvez seja esse o grande trunfo no modo de vermos nossos heróis atuais: eles se libertam da rotina, fogem do mundo e, simultaneamente, das suas regras. Quem de nós não desejaria fazer o mundo ao seu próprio molde?
Os heróis que nos fazem lotar as salas de cinema por aí a fora são reflexos de nosso desejo de mudar o mundo ao nosso gosto, de ordená-lo segundo nossa ótica. O problema é que o mundo já está aí e depois de mais ou menos duas horas a telona se apagará, fazendo com que voltemos para a mesma realidade densa que antes havia.
Como ainda não possuímos superpoderes para mudar o mundo, deveríamos de início nos concentrar no que se apresenta mais efetivo: usar nossos poderes para mudar os aspectos desagradáveis de nossas próprias vidas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Tolerância
Eduardo Nunes
TOLERÂNCIA
Com o passar do tempo (podemos notar), nós, seres humanos, estamos cada vez mais abolindo o sofrimento de nossas vidas; estamos buscando todos os recursos ao alcance para evitar a dor.
Aparatos tecnológicos dos mais variados; rotina de afazeres que frequentemente só tem como função livrar-nos do ócio; relacionamentos rápidos e sucessivos. Todos esses aspectos, para além de seus objetivos e funcionalidades declarados, também comportam a condição de suprimirem o sofrimento.
O mínimo de sofrimento já é motivo suficiente para que larguemos o que estamos realizando a fim de buscar outro afazer que, quiçá, não nos faça sofrer.
Acontece, e isso todos sabemos, ainda que não queiramos ver, que não há investimento que garanta só o prazer. O paradoxo existente é que para chegar a uma realização (ao prazer) são necessárias certas quantias de desilusões e sofrimento.
Parece, no entanto, que nos dias de hoje, o homem se tornou menos tolerante à dor e, consequentemente, mais vulnerável aos seus efeitos. Quantos projetos, relacionamentos, potenciais em franco desenvolvimento não são perdidos ou abandonados ao se depararem com as primeiras dificuldades?
Tolerar o sofrimento é muito dolorido, por vezes exaustivo, mas é o principal combustível para provocar mudanças, crescimento pessoal e a obtenção de prazer.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
TOLERÂNCIA
Com o passar do tempo (podemos notar), nós, seres humanos, estamos cada vez mais abolindo o sofrimento de nossas vidas; estamos buscando todos os recursos ao alcance para evitar a dor.
Aparatos tecnológicos dos mais variados; rotina de afazeres que frequentemente só tem como função livrar-nos do ócio; relacionamentos rápidos e sucessivos. Todos esses aspectos, para além de seus objetivos e funcionalidades declarados, também comportam a condição de suprimirem o sofrimento.
O mínimo de sofrimento já é motivo suficiente para que larguemos o que estamos realizando a fim de buscar outro afazer que, quiçá, não nos faça sofrer.
Acontece, e isso todos sabemos, ainda que não queiramos ver, que não há investimento que garanta só o prazer. O paradoxo existente é que para chegar a uma realização (ao prazer) são necessárias certas quantias de desilusões e sofrimento.
Parece, no entanto, que nos dias de hoje, o homem se tornou menos tolerante à dor e, consequentemente, mais vulnerável aos seus efeitos. Quantos projetos, relacionamentos, potenciais em franco desenvolvimento não são perdidos ou abandonados ao se depararem com as primeiras dificuldades?
Tolerar o sofrimento é muito dolorido, por vezes exaustivo, mas é o principal combustível para provocar mudanças, crescimento pessoal e a obtenção de prazer.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Relacionamentos
Eduardo Nunes
RELACIONAMENTOS
Atualmente, o homem busca, com freqüência cada vez maior, relações que sejam rápidas e sucintas. Dificilmente, sobretudo nos jovens de nossa época, o sentimento de amor está relacionado a um compromisso mais duradouro. As relações apresentam-se, em geral, como relações descartáveis.
O que é lento, árduo, que requeira cultivo e cuidado está fora de moda (inclusive a moda também estará logo, logo). Vivemos em uma sociedade instantânea, acelerada, onde tudo que anda a passos mais lentos é considerado rudimentar e, portanto, ultrapassado e descartável.
Se nos livramos de aparelhos celulares, televisores, entre outros produtos com plenas condições de uso e funcionamento, sem nem mesmo pestanejar, para que possamos adquirir outros mais modernos e evoluídos, porque há de imaginarmos que com as nossas relações seríamos diferentes?
O que pensar da modalidade de relacionamento “ficar” dos jovens? O “ficar”, terminologicamente, pode induzir e dar a entender um momento de estabilidade, de fixação nas relações em nossa sociedade veloz. Entretanto, quando estão todos em movimento, se você “ficar” por demasiado tempo, poderá ser atropelado, ultrapassado ou, ainda, perder uma boa oportunidade. Por isso, o “ficar” tem a função de uma ligação rápida, é apenas um recorte mínimo na linha das relações; tão rápido surge, fica e esvaece.
Essa, talvez, seja a intenção. Compromissos deixam marcas mais profundas, exigem um esforço contínuo, uma determinação maior e, por vezes, uma protelação da satisfação e do prazer. Por outro lado, o “ficar” e outras modalidades de relação rápidas aparentam-se bem mais confortáveis, a satisfação é o único objetivo e não há responsabilidades no dia seguinte. Os sentimentos são fluídos, mudam rapidamente, surgem novas metas e aspirações, novas oportunidades, que potencialmente podem ser melhores do que a atual.
Satisfação imediata e pouco sofrimento são os norteadores de grande parte das relações contemporâneas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
RELACIONAMENTOS
Atualmente, o homem busca, com freqüência cada vez maior, relações que sejam rápidas e sucintas. Dificilmente, sobretudo nos jovens de nossa época, o sentimento de amor está relacionado a um compromisso mais duradouro. As relações apresentam-se, em geral, como relações descartáveis.
O que é lento, árduo, que requeira cultivo e cuidado está fora de moda (inclusive a moda também estará logo, logo). Vivemos em uma sociedade instantânea, acelerada, onde tudo que anda a passos mais lentos é considerado rudimentar e, portanto, ultrapassado e descartável.
Se nos livramos de aparelhos celulares, televisores, entre outros produtos com plenas condições de uso e funcionamento, sem nem mesmo pestanejar, para que possamos adquirir outros mais modernos e evoluídos, porque há de imaginarmos que com as nossas relações seríamos diferentes?
O que pensar da modalidade de relacionamento “ficar” dos jovens? O “ficar”, terminologicamente, pode induzir e dar a entender um momento de estabilidade, de fixação nas relações em nossa sociedade veloz. Entretanto, quando estão todos em movimento, se você “ficar” por demasiado tempo, poderá ser atropelado, ultrapassado ou, ainda, perder uma boa oportunidade. Por isso, o “ficar” tem a função de uma ligação rápida, é apenas um recorte mínimo na linha das relações; tão rápido surge, fica e esvaece.
Essa, talvez, seja a intenção. Compromissos deixam marcas mais profundas, exigem um esforço contínuo, uma determinação maior e, por vezes, uma protelação da satisfação e do prazer. Por outro lado, o “ficar” e outras modalidades de relação rápidas aparentam-se bem mais confortáveis, a satisfação é o único objetivo e não há responsabilidades no dia seguinte. Os sentimentos são fluídos, mudam rapidamente, surgem novas metas e aspirações, novas oportunidades, que potencialmente podem ser melhores do que a atual.
Satisfação imediata e pouco sofrimento são os norteadores de grande parte das relações contemporâneas.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Folha de Papel
Eduardo Nunes
FOLHA DE PAPEL
Havia uma folha de papel em branco sobre a mesa antes da ventania. Avista-se, no céu, seu pontinho claro a chacoalhar. Provavelmente tenha esvaecido-se pela janela aberta. O fato é que esta folha estava a dançar no céu.
Virava-se para um lado e para o outro, contorcia-se até tocar seus extremos. Aos poucos, por ação do vento imponente, criou-se, na folha branca e lisa (até então), vincos, dobras e rugas. Que utilidade teria a pobre folha agora? Como voltar a sua mesa e encontrar todas as outras folhas que lá estão, novíssimas, em condição impecável?
Pobre folha! Estava inutilizável! Toda amassada, ganhou em peso e logo estava a cair. Encontrou-se com uma rocha, fez uma parábola até o chão, de onde não cessou em rolar. Passava entre folhas secas caídas, entre troncos de árvores e outras pedras mais que compunham o cenário. Rolou e rolou com energia inesgotável até deparar-se com um pequeno riacho.
Sem pestanejar, precipitou-se ao mergulho, retornando rapidamente à superfície. O mergulho lavou-a da sujeira que recolhera enquanto rolava no chão; melhor: limpou-a da sujeira excessiva, pois ainda restava um pouco de terra e folhas secas de árvores na embolada folha de papel. Este resto de impurezas, ao secar, tornou a folha de papel robusta e flutuável. A terra virou barro e endureceu, e as folhas secas, grudadas por este, aumentaram a área da folha de papel, evitando que afundasse no riacho.
A folha de papel, depois de tudo que passou, acabou desfrutando o resto de seus dias viajando ao leito do pequeno riacho. Se pudesse falar, certamente agradeceria a ventania que a retirou da monotonia da mesa.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
FOLHA DE PAPEL
Havia uma folha de papel em branco sobre a mesa antes da ventania. Avista-se, no céu, seu pontinho claro a chacoalhar. Provavelmente tenha esvaecido-se pela janela aberta. O fato é que esta folha estava a dançar no céu.
Virava-se para um lado e para o outro, contorcia-se até tocar seus extremos. Aos poucos, por ação do vento imponente, criou-se, na folha branca e lisa (até então), vincos, dobras e rugas. Que utilidade teria a pobre folha agora? Como voltar a sua mesa e encontrar todas as outras folhas que lá estão, novíssimas, em condição impecável?
Pobre folha! Estava inutilizável! Toda amassada, ganhou em peso e logo estava a cair. Encontrou-se com uma rocha, fez uma parábola até o chão, de onde não cessou em rolar. Passava entre folhas secas caídas, entre troncos de árvores e outras pedras mais que compunham o cenário. Rolou e rolou com energia inesgotável até deparar-se com um pequeno riacho.
Sem pestanejar, precipitou-se ao mergulho, retornando rapidamente à superfície. O mergulho lavou-a da sujeira que recolhera enquanto rolava no chão; melhor: limpou-a da sujeira excessiva, pois ainda restava um pouco de terra e folhas secas de árvores na embolada folha de papel. Este resto de impurezas, ao secar, tornou a folha de papel robusta e flutuável. A terra virou barro e endureceu, e as folhas secas, grudadas por este, aumentaram a área da folha de papel, evitando que afundasse no riacho.
A folha de papel, depois de tudo que passou, acabou desfrutando o resto de seus dias viajando ao leito do pequeno riacho. Se pudesse falar, certamente agradeceria a ventania que a retirou da monotonia da mesa.
Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.
Marcadores:
Eduardo Nunes
terça-feira, 3 de abril de 2012
Infância
Eduardo Nunes
INFÂNCIA
Estamos vivendo uma época de transformações profundas na sociedade e no ser humano. O núcleo familiar – a mulher, o homem e os filhos – vem ganhando novas configurações. A infância, em consequência, vem sofrendo sutis transformações.
As crianças em nosso mundo sofrem tanto quanto os adultos. É comum encontrarmos adultos que mais parecem crianças e crianças que precisam se fazer de adultos. Tristes são as crianças que engolem suas vontades e desejos frente às necessidades dos pais. Pais que, com suas novelas pessoais e egocêntricas, furtam a infância de seres tão frágeis e em desenvolvimento.
A infância, como a conhecemos, está em extinção. Pouco a pouco vão se acabando as brincadeiras de rua, os tampões de dedões arrancados, os joelhos e cotovelos ralados, as cantigas, as aventuras em busca de tesouros perdidos.
Pais que não querem ver e não gostam de crianças que choram, que precisam de cuidados médicos, que reviram os lençóis da cama montando cabanas, que enchem a casa de brinquedos, crianças que correm por todos os lados.
Em frente ao computador, TV ou vídeo-game, essas crianças economizam aos pais centenas de reais ao ano em vasos e luminárias não quebrados. Talvez mais significante seja a economia mental destes pais.
Criança dá trabalho. Criança tem que se machucar; criança tem que levar bronca, ficar de castigo; criança tem que ser vista. Um simples olhar no atribulado dia-a-dia dos pais dá a criança a certeza de ser alguém para alguém.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo.
INFÂNCIA
Estamos vivendo uma época de transformações profundas na sociedade e no ser humano. O núcleo familiar – a mulher, o homem e os filhos – vem ganhando novas configurações. A infância, em consequência, vem sofrendo sutis transformações.
As crianças em nosso mundo sofrem tanto quanto os adultos. É comum encontrarmos adultos que mais parecem crianças e crianças que precisam se fazer de adultos. Tristes são as crianças que engolem suas vontades e desejos frente às necessidades dos pais. Pais que, com suas novelas pessoais e egocêntricas, furtam a infância de seres tão frágeis e em desenvolvimento.
A infância, como a conhecemos, está em extinção. Pouco a pouco vão se acabando as brincadeiras de rua, os tampões de dedões arrancados, os joelhos e cotovelos ralados, as cantigas, as aventuras em busca de tesouros perdidos.
Pais que não querem ver e não gostam de crianças que choram, que precisam de cuidados médicos, que reviram os lençóis da cama montando cabanas, que enchem a casa de brinquedos, crianças que correm por todos os lados.
Em frente ao computador, TV ou vídeo-game, essas crianças economizam aos pais centenas de reais ao ano em vasos e luminárias não quebrados. Talvez mais significante seja a economia mental destes pais.
Criança dá trabalho. Criança tem que se machucar; criança tem que levar bronca, ficar de castigo; criança tem que ser vista. Um simples olhar no atribulado dia-a-dia dos pais dá a criança a certeza de ser alguém para alguém.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo.
Marcadores:
Eduardo Nunes
terça-feira, 13 de março de 2012
Pré-conceito
Eduardo Nunes
PRÉ-CONCEITO
Recebemos na última semana no Brasil o terceiro na linha de sucessão do trono da Inglaterra. Um menino simpático e brincalhão que chamamos de príncipe. O dito príncipe passeou pelo Brasil – conhecido como Rio de Janeiro – jogando Rugby na areia, visitando favelas, entre outras coisas mais.
O que me chamou a atenção neste reboliço todo foi a fala de um outro menino (brasileiro) a uma emissora de TV nacional. Quando a repórter pergunta-lhe como ele imaginava ser um príncipe, o menino responde prontamente: “Branco... loiro, alto...” Não pude deixar de notar que o menino era de pele negra, mesmo que os apresentadores do jornal e a repórter nada tenham mencionado a este fato. Cumpriram seu papel de imparcialidade.
Como não tenho esse dever, fiquei inquieto com a fala do menino. A primeira palavra que ele usou foi “branco”. Se em sua mente todo príncipe é branco, o que ele poderá ser, enquanto negro? Um negro não poderia ser um príncipe? É evidente que pode haver príncipes negros, mas para o menino talvez não.
O que esse menino negro poderá ser então em seu futuro? Um traficante? Penso que ele pode ser o que quiser, inclusive um príncipe, mesmo que não em título. Será que este menino pensa o mesmo que eu!?
Alguns podem argumentar, e não sem razão, que um menino da favela como este pode não ter muitas oportunidades na vida. Não discordo, só me preocupo quando noto que o preconceito não vem somente de fora, mas também está inserido no âmago do menino.
Pode parecer uma fala inocente, contudo falar que o príncipe é branco exclui os negros de almejarem tal posto, estabelece uma barreira, um limite ao alcance desta população. O menino revela que se vê como inferior. O pior preconceito é aquele atado a nossa alma, aquele que aparece, não de forma ofensiva, mas sim, por exemplo, em uma fala inocente.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo,
PRÉ-CONCEITO
Recebemos na última semana no Brasil o terceiro na linha de sucessão do trono da Inglaterra. Um menino simpático e brincalhão que chamamos de príncipe. O dito príncipe passeou pelo Brasil – conhecido como Rio de Janeiro – jogando Rugby na areia, visitando favelas, entre outras coisas mais.
O que me chamou a atenção neste reboliço todo foi a fala de um outro menino (brasileiro) a uma emissora de TV nacional. Quando a repórter pergunta-lhe como ele imaginava ser um príncipe, o menino responde prontamente: “Branco... loiro, alto...” Não pude deixar de notar que o menino era de pele negra, mesmo que os apresentadores do jornal e a repórter nada tenham mencionado a este fato. Cumpriram seu papel de imparcialidade.
Como não tenho esse dever, fiquei inquieto com a fala do menino. A primeira palavra que ele usou foi “branco”. Se em sua mente todo príncipe é branco, o que ele poderá ser, enquanto negro? Um negro não poderia ser um príncipe? É evidente que pode haver príncipes negros, mas para o menino talvez não.
O que esse menino negro poderá ser então em seu futuro? Um traficante? Penso que ele pode ser o que quiser, inclusive um príncipe, mesmo que não em título. Será que este menino pensa o mesmo que eu!?
Alguns podem argumentar, e não sem razão, que um menino da favela como este pode não ter muitas oportunidades na vida. Não discordo, só me preocupo quando noto que o preconceito não vem somente de fora, mas também está inserido no âmago do menino.
Pode parecer uma fala inocente, contudo falar que o príncipe é branco exclui os negros de almejarem tal posto, estabelece uma barreira, um limite ao alcance desta população. O menino revela que se vê como inferior. O pior preconceito é aquele atado a nossa alma, aquele que aparece, não de forma ofensiva, mas sim, por exemplo, em uma fala inocente.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo,
Marcadores:
Eduardo Nunes
quinta-feira, 8 de março de 2012
A nova mulher
Eduardo Nunes
A NOVA MULHER
Nós, homens, estamos desorientados, atualmente. Não sabemos o que ser; são tantas as possibilidades! Quando olhamos para épocas anteriores, podemos deduzir que esse sentimento (de desorientação) não é privilégio de nossa contemporaneidade, contudo, no presente, ele se expressa por segmentos inéditos. Entre todos os desafios ainda virgens, por assim dizer, de nossas vidas, talvez aquele que mais nos cause sofrimento e remoa nossas vísceras seja o desafio da nova mulher. Sim... Nós homens da atualidade teremos que lidar com esse ser totalmente inovado que se apresenta com imponência à nossa frente.
Por séculos vivemos calibrados para uma família clássica burguesa: papai trabalha fora, mamãe cuida do lar e da educação dos filhos, que devem ter, quando adultos, mais bens do que seus ascendentes. Que missão espinhosa essa a dos filhos: de superar financeiramente seus pais! Ainda assim, podiam dividi-la com seus futuros cônjuges. Os mais velhos diziam: “Por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher”. Esse dito refletia bem a força da mulher – sustentadora do lar, flexível para com os filhos, marido e seus afazeres domésticos –, enquanto o homem era rígido, olhava sempre para a mesma direção, pois sabia que seu entorno estava bem cuidado. Salvo algumas exceções, em geral, esta era a regra.
Nos dias de hoje, as famílias adquiriram novas formas, sobretudo, porque as mulheres almejaram as vantagens masculinas de tempos atrás. Alguns dizem que as mulheres começaram a trabalhar fora por necessidade de capital; particularmente, pauto essa mudança principalmente no desejo feminino de independência. Motivos à parte, as famílias de hoje não são mais aquelas ao molde burguês e o fator preponderante para essa mudança está em seu núcleo, a mulher.
Com ressalvas ao feminismo e ao machismo (considero, ambos, aberrações extremistas sem sentido aplicável), a mulher atual é mais masculina do que muitos homens. Digo isso, pois considero como “masculino” o aspecto rígido do qual fiz alusão há pouco. Isso implica dizer que as mulheres assumiram a condição rígida que caracterizava o homem burguês? Absolutamente. Meu pensamento vai pelo elo contrário: o homem está tendo que se haver com seu lado feminino (de se tornar flexível, sentimental sem abster de sua robustez) atualmente como nunca o fez em outras épocas.
A mulher pós-moderna trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego no homem antes de dormir. O homem pós-moderno trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego na mulher antes de dormir. Igualdade de direitos totalmente justa. Qual é então a diferença? A sensível diferença é que a mulher há muito tempo vem lidando com seus vários papéis, em uma prática quase que natural; já o homem está perdido (não há alguém mais à sua retaguarda), quase que abruptamente se vê com responsabilidades que não está preparado para assumir.
Ainda mais desorientador para o homem do que assumir novas funções é a presença marcante da nova mulher. É sabido que todo homem busca em sua esposa resquícios das características da mulher mais importante de sua vida até então, sua mãe. Como o surgimento da nova mulher é um fenômeno relativamente novo, é de se esperar que as mães sejam mais próximas da clássica família burguesa do que as aspirantes às esposas, por se tratar de outra geração. Buscar características da mulher da família burguesa nas novas gerações não tem sentido algum. A mulher atual se apresenta, ao homem, tão capacitada quanto (se não mais), com poder financeiro que lhe dá independência e com desejos sexuais, por vezes até mais vorazes. Eis o mal do homem pós-moderno.
O homem atual é uma criança sem sua mãe: frágil, medroso, impotente. Talvez até (mas, não só) por isso, verificamos um aumento significativo na homossexualidade entre os homens. As mulheres nos assustam quando demonstram que também devemos zelar pelo nosso lar e pelos filhos; quando mostram que almejam nossos corpos “conservados”; quando, na cama, esperam ótimos desempenhos. Descobrimos que as mulheres também gozam, e nós temos que lhes proporcionar isso. Quanta responsabilidade!
Talvez devesse alterar o título desta reflexão para “o novo homem”, já que me prendi mais nos desafios deste. Ainda assim, conservo o original, pois penso que falar do “novo homem” é falar de um ser que não existe, que ainda está em construção. Esperamos poder lidar com esses desafios, crescer e assumir nossa nova condição. Sabemos que as mulheres também precisam de nós em seu entorno.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo.
A NOVA MULHER
Nós, homens, estamos desorientados, atualmente. Não sabemos o que ser; são tantas as possibilidades! Quando olhamos para épocas anteriores, podemos deduzir que esse sentimento (de desorientação) não é privilégio de nossa contemporaneidade, contudo, no presente, ele se expressa por segmentos inéditos. Entre todos os desafios ainda virgens, por assim dizer, de nossas vidas, talvez aquele que mais nos cause sofrimento e remoa nossas vísceras seja o desafio da nova mulher. Sim... Nós homens da atualidade teremos que lidar com esse ser totalmente inovado que se apresenta com imponência à nossa frente.
Por séculos vivemos calibrados para uma família clássica burguesa: papai trabalha fora, mamãe cuida do lar e da educação dos filhos, que devem ter, quando adultos, mais bens do que seus ascendentes. Que missão espinhosa essa a dos filhos: de superar financeiramente seus pais! Ainda assim, podiam dividi-la com seus futuros cônjuges. Os mais velhos diziam: “Por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher”. Esse dito refletia bem a força da mulher – sustentadora do lar, flexível para com os filhos, marido e seus afazeres domésticos –, enquanto o homem era rígido, olhava sempre para a mesma direção, pois sabia que seu entorno estava bem cuidado. Salvo algumas exceções, em geral, esta era a regra.
Nos dias de hoje, as famílias adquiriram novas formas, sobretudo, porque as mulheres almejaram as vantagens masculinas de tempos atrás. Alguns dizem que as mulheres começaram a trabalhar fora por necessidade de capital; particularmente, pauto essa mudança principalmente no desejo feminino de independência. Motivos à parte, as famílias de hoje não são mais aquelas ao molde burguês e o fator preponderante para essa mudança está em seu núcleo, a mulher.
Com ressalvas ao feminismo e ao machismo (considero, ambos, aberrações extremistas sem sentido aplicável), a mulher atual é mais masculina do que muitos homens. Digo isso, pois considero como “masculino” o aspecto rígido do qual fiz alusão há pouco. Isso implica dizer que as mulheres assumiram a condição rígida que caracterizava o homem burguês? Absolutamente. Meu pensamento vai pelo elo contrário: o homem está tendo que se haver com seu lado feminino (de se tornar flexível, sentimental sem abster de sua robustez) atualmente como nunca o fez em outras épocas.
A mulher pós-moderna trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego no homem antes de dormir. O homem pós-moderno trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego na mulher antes de dormir. Igualdade de direitos totalmente justa. Qual é então a diferença? A sensível diferença é que a mulher há muito tempo vem lidando com seus vários papéis, em uma prática quase que natural; já o homem está perdido (não há alguém mais à sua retaguarda), quase que abruptamente se vê com responsabilidades que não está preparado para assumir.
Ainda mais desorientador para o homem do que assumir novas funções é a presença marcante da nova mulher. É sabido que todo homem busca em sua esposa resquícios das características da mulher mais importante de sua vida até então, sua mãe. Como o surgimento da nova mulher é um fenômeno relativamente novo, é de se esperar que as mães sejam mais próximas da clássica família burguesa do que as aspirantes às esposas, por se tratar de outra geração. Buscar características da mulher da família burguesa nas novas gerações não tem sentido algum. A mulher atual se apresenta, ao homem, tão capacitada quanto (se não mais), com poder financeiro que lhe dá independência e com desejos sexuais, por vezes até mais vorazes. Eis o mal do homem pós-moderno.
O homem atual é uma criança sem sua mãe: frágil, medroso, impotente. Talvez até (mas, não só) por isso, verificamos um aumento significativo na homossexualidade entre os homens. As mulheres nos assustam quando demonstram que também devemos zelar pelo nosso lar e pelos filhos; quando mostram que almejam nossos corpos “conservados”; quando, na cama, esperam ótimos desempenhos. Descobrimos que as mulheres também gozam, e nós temos que lhes proporcionar isso. Quanta responsabilidade!
Talvez devesse alterar o título desta reflexão para “o novo homem”, já que me prendi mais nos desafios deste. Ainda assim, conservo o original, pois penso que falar do “novo homem” é falar de um ser que não existe, que ainda está em construção. Esperamos poder lidar com esses desafios, crescer e assumir nossa nova condição. Sabemos que as mulheres também precisam de nós em seu entorno.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo.
Marcadores:
Eduardo Nunes
Assinar:
Postagens (Atom)