quinta-feira, 8 de março de 2012

A nova mulher

Eduardo Nunes
A NOVA MULHER


Nós, homens, estamos desorientados, atualmente. Não sabemos o que ser; são tantas as possibilidades! Quando olhamos para épocas anteriores, podemos deduzir que esse sentimento (de desorientação) não é privilégio de nossa contemporaneidade, contudo, no presente, ele se expressa por segmentos inéditos. Entre todos os desafios ainda virgens, por assim dizer, de nossas vidas, talvez aquele que mais nos cause sofrimento e remoa nossas vísceras seja o desafio da nova mulher. Sim... Nós homens da atualidade teremos que lidar com esse ser totalmente inovado que se apresenta com imponência à nossa frente.


Por séculos vivemos calibrados para uma família clássica burguesa: papai trabalha fora, mamãe cuida do lar e da educação dos filhos, que devem ter, quando adultos, mais bens do que seus ascendentes. Que missão espinhosa essa a dos filhos: de superar financeiramente seus pais! Ainda assim, podiam dividi-la com seus futuros cônjuges. Os mais velhos diziam: “Por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher”. Esse dito refletia bem a força da mulher – sustentadora do lar, flexível para com os filhos, marido e seus afazeres domésticos –, enquanto o homem era rígido, olhava sempre para a mesma direção, pois sabia que seu entorno estava bem cuidado. Salvo algumas exceções, em geral, esta era a regra.


Nos dias de hoje, as famílias adquiriram novas formas, sobretudo, porque as mulheres almejaram as vantagens masculinas de tempos atrás. Alguns dizem que as mulheres começaram a trabalhar fora por necessidade de capital; particularmente, pauto essa mudança principalmente no desejo feminino de independência. Motivos à parte, as famílias de hoje não são mais aquelas ao molde burguês e o fator preponderante para essa mudança está em seu núcleo, a mulher.


Com ressalvas ao feminismo e ao machismo (considero, ambos, aberrações extremistas sem sentido aplicável), a mulher atual é mais masculina do que muitos homens. Digo isso, pois considero como “masculino” o aspecto rígido do qual fiz alusão há pouco. Isso implica dizer que as mulheres assumiram a condição rígida que caracterizava o homem burguês? Absolutamente. Meu pensamento vai pelo elo contrário: o homem está tendo que se haver com seu lado feminino (de se tornar flexível, sentimental sem abster de sua robustez) atualmente como nunca o fez em outras épocas.


A mulher pós-moderna trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego no homem antes de dormir. O homem pós-moderno trabalha fora o dia, cuida dos filhos e da casa à noite e faz chamego na mulher antes de dormir. Igualdade de direitos totalmente justa. Qual é então a diferença? A sensível diferença é que a mulher há muito tempo vem lidando com seus vários papéis, em uma prática quase que natural; já o homem está perdido (não há alguém mais à sua retaguarda), quase que abruptamente se vê com responsabilidades que não está preparado para assumir.


Ainda mais desorientador para o homem do que assumir novas funções é a presença marcante da nova mulher. É sabido que todo homem busca em sua esposa resquícios das características da mulher mais importante de sua vida até então, sua mãe. Como o surgimento da nova mulher é um fenômeno relativamente novo, é de se esperar que as mães sejam mais próximas da clássica família burguesa do que as aspirantes às esposas, por se tratar de outra geração. Buscar características da mulher da família burguesa nas novas gerações não tem sentido algum. A mulher atual se apresenta, ao homem, tão capacitada quanto (se não mais), com poder financeiro que lhe dá independência e com desejos sexuais, por vezes até mais vorazes. Eis o mal do homem pós-moderno.


O homem atual é uma criança sem sua mãe: frágil, medroso, impotente. Talvez até (mas, não só) por isso, verificamos um aumento significativo na homossexualidade entre os homens. As mulheres nos assustam quando demonstram que também devemos zelar pelo nosso lar e pelos filhos; quando mostram que almejam nossos corpos “conservados”; quando, na cama, esperam ótimos desempenhos. Descobrimos que as mulheres também gozam, e nós temos que lhes proporcionar isso. Quanta responsabilidade!


Talvez devesse alterar o título desta reflexão para “o novo homem”, já que me prendi mais nos desafios deste. Ainda assim, conservo o original, pois penso que falar do “novo homem” é falar de um ser que não existe, que ainda está em construção. Esperamos poder lidar com esses desafios, crescer e assumir nossa nova condição. Sabemos que as mulheres também precisam de nós em seu entorno.


Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo.

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