segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Eduardo Nunes

Eduardo Nunes
OS IGNORANTES SÃO MAIS FELIZES

Os ignorantes são mais felizes. Para além de qualquer “pré-conceito”, esta sentença tem sua justificativa e real valência. Sei, também, que esta sentença, postulada por Clarice Lispector, pode figurar-se com características pessimistas e de menor valia para a vida, contudo, esses adjetivos não minimizam sua veracidade potencial.

Digo concordar que os ignorantes vivem mais felizes não por puro “achismo”, nem sequer pelo simples fato de reproduzir um dito que tornou-se popular, mas referendo-me nas biografias de grandes pensadores de nossa história. Spinoza, Nietzsche, Van Gogh e a própria Clarice Lispector, todos possuíam sombras enormes por detrás da beleza de suas produções. Não pretendo esmiuçar aqui a vida de nenhum destes, todavia, não são poucos os exemplos de intelectuais que tiveram grandes fissuras emocionais.

Talvez o “ignorantes” da frase supra posta não limite-se somente a intelectualidade propriamente dita, mas também a uma sensibilidade para perceber os movimentos do mundo que poucos dispõem. Ignorantes, portanto, seriam aqueles que não possuem essa sensibilidade. Também (é necessário que se exponha) descarto aqui qualquer evento ou habilidade sobre-humanas. Essa sensibilidade a qual me refiro tende mais a uma condição ímpar de olhar o obvio nos olhos. Confuso, não? Tentarei ser mais claro.

Todos nós, nascidos nesse mundo, passamos pela vida de forma única, vivenciamos experiências diferentes de qualquer outra pessoa no planeta. Ainda assim, quando olhamos mais a fundo, encontramos semelhanças em indivíduos superficialmente diferentes. É, pois, a capacidade de olhar esse ser cru, sem forma, rudimentar, em nós mesmos que chamo aqui de “sensibilidade”.

Se a crítica nos permitisse, veríamos que entre nós e um assassino ou um pedófilo ou qualquer outra classificação que a sociedade abomina e segrega, não existem muitas diferenças no que tange a características primitivas. Somos todos seres humanos (“humanos” aqui como substantivo). Esforçamo-nos constantemente para viver em sociedade; reprimimos sentimentos e desejos tão primitivos quanto aqueles que abominamos socialmente nos outros. Quando há em nós uma sensibilidade maior a esses sentimentos e desejos, quando nos damos conta deles, a surpresa e o terror são demasiados. O diferencial entre nós e um assassino (por exemplo) é que moldamos nossos sentimentos às atividades aceitas pela sociedade como a pintura, o artesanato, a uma reflexão intelectual. Quanta violência não há no esporte? Mas ela é direcionada a um fim, neste caso, a competição; portanto socialmente aceita.

Aí reside a diferença entre um “louco comum” e um “louco genial”: ambos conhecem a fundo seu lado animal, primitivo e rudimentar, todavia, o último utiliza para expressão do seu lado funesto um meio que colabora com a sociedade, um meio que seja humano. Ainda assim, gostaríamos de não encontrar com esse animal que nos habita, muitas vezes ele é difícil de ser domado, gera muito sofrimento; preferiríamos então viver na ignorância e relativamente mais felizes.

Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.

3 comentários:

Ana Patricia disse...

REALMENTE PESSOAS QUE NÃO CONSEGUEM VER MALDADES SEJA ELA EM QUAISQUER ESFERA SOCIAL ,SÃO MAIS FELIZES,POIS A SUA INOCÊNCIA EVITA SOFRIMENTOS.PESSOAS ESCLARECIDAS OU DE UM GRAU MAIS ELEVADO DE ESCOLARIDADE , OU SEJA QUE CONSEGUEM FAZER UMA REFLEXÃO MAIS PROFUNDA ,UMA ANALISE CRÍTICA MAIS CIENTIFICA,NÃO SE UTILIZANDO TANTO DO SENSO COMUM,SOFREM NA PELE ALGUMAS DORES OU TODAS,POIS SENTEM AS DORES DO MUNDO,SER SENSÍVEL ,SENTIR A DOR DO PRÓXIMO,PODE NOS LEVAR A VIVER EM SITUAÇÃO DE ETERNO INCONFORMISMO,O QUE NOS IMPEDE DE SERMOS MAIS FELIZES...

Ana Patricia disse...

RENATO RUSSO,CLARICE LISPECTOR ,TIM MAIA,E ALGUNS OUTROS CONTEMPORÂNEOS,NOS DEIXOU CLARO QUE A SENSIBILIDADES E A ABORDAGEM QUE AMBOS FIZERAM,ERAM PESSOAS EXTREMAMENTE SENSIVEIS.PORÉM COM ALGUNS TRANTORNOS EMOCIONAIS, TALVEZ POR VIVER E SENTIR A MALDADE NO MUNDO.É MUITO DIFICILO SE FAZER ENTENDER QUANDO NINGUÉM ENTENDEU ALGO QUE VOCÊ ENTENDEU,É DIFICIL COBRAR ATITUDES EM SITUAÇÕES EM QUE A MAIORIA NÃO PERCEBE,É TUDO TÃO OBVIO QUE PARECE DESNECESSARIO QUE SE EXPLIQUE E SE VPCÊ EXPLICAR NINGUÉM ENTENDE...

Índios
Legião Urbana

Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer.

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.

Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do iní­cio ao fim.

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado.

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim.

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

Anônimo disse...

Mundo doente...isso resume tudo...