segunda-feira, 16 de abril de 2012

Folha de Papel

Eduardo Nunes
FOLHA DE PAPEL


Havia uma folha de papel em branco sobre a mesa antes da ventania. Avista-se, no céu, seu pontinho claro a chacoalhar. Provavelmente tenha esvaecido-se pela janela aberta. O fato é que esta folha estava a dançar no céu.


Virava-se para um lado e para o outro, contorcia-se até tocar seus extremos. Aos poucos, por ação do vento imponente, criou-se, na folha branca e lisa (até então), vincos, dobras e rugas. Que utilidade teria a pobre folha agora? Como voltar a sua mesa e encontrar todas as outras folhas que lá estão, novíssimas, em condição impecável?


Pobre folha! Estava inutilizável! Toda amassada, ganhou em peso e logo estava a cair. Encontrou-se com uma rocha, fez uma parábola até o chão, de onde não cessou em rolar. Passava entre folhas secas caídas, entre troncos de árvores e outras pedras mais que compunham o cenário. Rolou e rolou com energia inesgotável até deparar-se com um pequeno riacho.


Sem pestanejar, precipitou-se ao mergulho, retornando rapidamente à superfície. O mergulho lavou-a da sujeira que recolhera enquanto rolava no chão; melhor: limpou-a da sujeira excessiva, pois ainda restava um pouco de terra e folhas secas de árvores na embolada folha de papel. Este resto de impurezas, ao secar, tornou a folha de papel robusta e flutuável. A terra virou barro e endureceu, e as folhas secas, grudadas por este, aumentaram a área da folha de papel, evitando que afundasse no riacho.


A folha de papel, depois de tudo que passou, acabou desfrutando o resto de seus dias viajando ao leito do pequeno riacho. Se pudesse falar, certamente agradeceria a ventania que a retirou da monotonia da mesa.


Eduardo Nunes, psicólogo, venceslauense.

Nenhum comentário: