Eduardo Nunes
PRÉ-CONCEITO
Recebemos na última semana no Brasil o terceiro na linha de sucessão do trono da Inglaterra. Um menino simpático e brincalhão que chamamos de príncipe. O dito príncipe passeou pelo Brasil – conhecido como Rio de Janeiro – jogando Rugby na areia, visitando favelas, entre outras coisas mais.
O que me chamou a atenção neste reboliço todo foi a fala de um outro menino (brasileiro) a uma emissora de TV nacional. Quando a repórter pergunta-lhe como ele imaginava ser um príncipe, o menino responde prontamente: “Branco... loiro, alto...” Não pude deixar de notar que o menino era de pele negra, mesmo que os apresentadores do jornal e a repórter nada tenham mencionado a este fato. Cumpriram seu papel de imparcialidade.
Como não tenho esse dever, fiquei inquieto com a fala do menino. A primeira palavra que ele usou foi “branco”. Se em sua mente todo príncipe é branco, o que ele poderá ser, enquanto negro? Um negro não poderia ser um príncipe? É evidente que pode haver príncipes negros, mas para o menino talvez não.
O que esse menino negro poderá ser então em seu futuro? Um traficante? Penso que ele pode ser o que quiser, inclusive um príncipe, mesmo que não em título. Será que este menino pensa o mesmo que eu!?
Alguns podem argumentar, e não sem razão, que um menino da favela como este pode não ter muitas oportunidades na vida. Não discordo, só me preocupo quando noto que o preconceito não vem somente de fora, mas também está inserido no âmago do menino.
Pode parecer uma fala inocente, contudo falar que o príncipe é branco exclui os negros de almejarem tal posto, estabelece uma barreira, um limite ao alcance desta população. O menino revela que se vê como inferior. O pior preconceito é aquele atado a nossa alma, aquele que aparece, não de forma ofensiva, mas sim, por exemplo, em uma fala inocente.
Eduardo Nunes, venceslauense, psicólogo,
2 comentários:
REBULIÇO.
"...me preocupo quando noto que o preconceito não vem somente de fora, mas também está inserido no âmago do menino." Não poderia ser de outra forma. Aos negros e os seus descendentes se nega sem piedade até a condição de sonharem almejarem um lugar ao sol. Jogar de futebol, se for craque tudo bem, mas técnico jamais. Copeira sim, mas gerente ou mesmo recepcionista, isto não. Repórter negro um em um milhão, mas âncora, never. E por aí vai. Veja o poema abaixo (parte dele).
MOÇA, ME DÁ UMA ROSA!
Poema de Mário Barreto França
O mundo é sempre assim: esconde a mão ao pobre,
Para fartar na orgia os caprichos do nobre!
No outro dia, bem cedo, às grades do jardim,
O garoto de novo estava a olhá-lo, assim:
Na ânsia de retratar na alma sentimental
O quadro multicor daquele roseiral,
Para poder sentir, dentro da própria vida,
O sonho irrealizado, a glória inatingida...
Quando a jovem surgiu de novo, entre os canteiros,
Seus olhos outra vez brilharam prazenteiros,
E cheio de esperança, à jovem tão formosa,
Com ternura pediu: - Moça, me dá uma rosa!
Agastada, porém, com o pedido insistente,
A jovem lhe negou o esperado presente:
- Vá embora daí, se não eu chamo um guarda!...
Temendo a intervenção enérgica da farda,
O pretinho correu em direção ao morro,
Lançando ao ar parado um grito de socorro,
Que não achou, naquela esplêndida manhã,
Qualquer repercussão na piedade cristã...
(Apenas uma parte)
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