Espaço do Nando

Espaço do Nando
Notícias da Disneylândia emergente


Aqui na Disneylândia emergente, as coisas estão disfarçadamente bem. Não se vive a crise aguda de outros reinos longínquos, a democracia aparentemente está preservada e a população parece estar um pouco mais alegre, apesar de tantos contratempos.


O Mickey continua dando as cartas no pedaço. Após oito anos do poder, utilizou-se de sua grande popularidade e deixou a Minie no trono. Por mais que muitos duvidassem, ela também está gozando do apoio da maioria de população, e de certa forma, até que está dando conta do recado, no comando do reino.


O Zé Carioca está satisfeito. Ainda que na Vila Xurupita falte asfalto, saneamento básico, iluminação pública e rede de água, ele não tira o sorriso alienado do bico. Talvez porque “nunca na história deste reino”, ele tenha consumido tanto. A compra do mês está um pouco mais sortida, sendo que ele acabou de mobiliar o barraco com móveis e eletrodomésticos novinhos em folha. Dizem as más línguas que a aquisição foi realizada através de um crediário com suaves prestações a perder de vista, pagando uns jurinhos básicos, que cabem no seu orçamento. Mas o Zé não liga. Ele quer mais é consumir e assistir os jogos de futebol na sua TV de LED. Sua companheira, a Rosinha, também está contente. Vai regularmente ao salão de beleza, fazer "depenação" e tratar dos pés. Nos serviços domésticos, ela passou a usar máquina de lavar roupas, e a comida está sendo requentada no forno micro-ondas. E realmente, um pouco de praticidade e conforto não faz mal a ninguém.


O Tio Patinhas também está rindo à toa. Diversificou os investimentos, fez novas aplicações e está ganhando um bom dinheiro. Para ter maior garantia de lucro, tornou-se banqueiro, fazendo empréstimos para sujeitos como o Zé Carioca, a Rosinha e o Pateta. Só para informar, o percentual de milionários como o Tio Patinhas, aumentou em 6,2% no ano passado, na nossa Disneylândia emergente.


Já o Capitão Gancho parece vencer sempre o Peter Pan, dando um verdadeiro baile no nosso herói. A pirataria corre frouxa no reino, tomando conta das cidades. Talvez seja por causa da proximidade com aquele país vendedor de muamba, mas a verdade é que os piratas estão cada vez mais presentes. E o que é pior: não é preciso nem usar navio, pois nossas imensas fronteiras terrestres facilitam a prática.


Os Metralhas há tempos infiltraram-se no poder, fazendo parte não só do governo, como também da oposição. Realizam acordos com bicheiros e empreiteiros, ganhando muita grana, enquanto o Pluto está se sentindo em casa, pois nunca viu tanta “cachorrada”. O legal aqui é acompanhar os conflitos entre os cães, que fazem de tudo para não largarem o osso.


Nessa história toda, eu tenho dó do Pateta. Este sofre, coitadinho. Não usufrui de serviços públicos de qualidade, mas tem boa parte dos seus vencimentos devorada pelo Imposto de Renda, simbolizado pelo Rei Leão. Falando em Rei Leão, sinceramente, vou ficar devendo as notícias do Pumba, pois não o encontrei. Mas tenho notícias do parceiro dele, o Timão, que surpreendentemente conseguiu chegar à final da Libertadores....


Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.