sábado, 22 de agosto de 2015

Ciência e saúde


O que acontece no cérebro de seu filho quando você lê para ele?


Pouco mais de um ano atrás, a Academia Americana de Pediatria divulgou uma diretriz dizendo que todos os cuidados pediátricos primários deveriam incluir a promoção da leitura, começando no nascimento.

Isso significa que os pediatras que cuidam de crianças deveriam aconselhar rotineiramente os pais da grande importância da leitura, mesmo para as pequenas. A diretriz, que escrevi com Pamela C. High, contava com uma análise crítica da pesquisa volumosa sobre os vínculos entre crescer com livros e leitura em voz alta e o desenvolvimento posterior da linguagem e do sucesso escolar.

Porém, embora saibamos que ler para uma criança pequena esteja associado a bons resultados, existe uma compreensão limitada de qual mecanismo pode estar envolvido. Dois estudos novos examinam as interações inesperadamente complexas que acontecem quando se coloca uma criança no colo e se abre um livro com gravuras.

Neste mês, o "Pediatrics" publicou um estudo que utilizou ressonância magnética funcional para estudar a atividade cerebral de crianças de três a cinco anos enquanto ouviam histórias adequadas à idade. Os pesquisadores encontraram diferenças na ativação do cérebro de acordo com a quantidade de leitura as crianças estavam acostumadas em casa.

Crianças cujos pais relataram mais leitura e livros em casa demonstraram ativação significativamente maior de áreas cerebrais numa região do hemisfério esquerdo chamada córtex de associação parietal-temporal-occipital. Esta área cerebral é "uma região decisiva, toda voltada à integração multissensorial, integrando som e estimulação visual", afirmou o autor principal, John S. Hutton, pesquisador clínico do Centro Médico Hospitalar Infantil de Cincinnati.

Essa zona do cérebro é conhecida por ser muito ativa quando crianças mais velhas leem para si mesmas, mas Hutton observa que ela também se acende quando as mais novas escutam histórias. A grande novidade é o fato de as crianças expostas a muita leitura em casa mostrarem uma atividade significativamente maior nas áreas do cérebro que processam a associação visual, embora a criança estivesse no aparelho apenas ouvindo uma história e não pudesse ver as ilustrações.

"Quando as crianças estão ouvindo a narrativa, a mente fica imaginando a história. Por exemplo, 'o sapo saltou o tronco'. Eu vi um sapo antes, eu vi um tronco antes. Qual é a cara disso?", disse Hutton.

Segundo ele, os níveis diferentes de ativação cerebral sugerem que as crianças com mais prática no desenvolvimento dessas imagens visuais, enquanto olham as gravuras dos livros e escutam as narrações, podem desenvolver habilidades que as ajudarão mais tarde a compor imagens e histórias a partir de palavras.

"Isso as auxilia a compreender qual é a aparência das coisas, e pode ajudar na transição a livros sem ilustrações. Vai ajudá-las posteriormente a serem leitores melhores porque desenvolveram aquela parte do cérebro que as auxilia a ver o que está acontecendo na história."

Hutton especulou que o livro também pode estar estimulando a criatividade de forma diferente de desenhos animados e outros entretenimentos em telas.

"Quando lhes mostramos o vídeo de uma história, damos um curto-circuito nesse processo?", ele questionou. "Estamos tirando o trabalho delas? Elas não precisam imaginar a história, simplesmente apresentada para as crianças."

Nós sabemos que é importante que as crianças pequenas escutem linguagem e que elas precisam ouvi-la de pessoas, não de telas. Infelizmente, existem grandes disparidades em quanta linguagem as crianças escutam – de maneira mais famosa demonstrada no estudo de Hart e Risley segundo o qual as crianças pobres ouviam milhões de palavras a menos aos três anos de idade.

Porém, acontece que ler para – e com – crianças pequenas pode ampliar a linguagem que escutam mais do que apenas o falar. Em agosto, "Psychological Science" informou sobre pesquisadores que estudaram o conteúdo da linguagem dos livros ilustrados. Eles reuniram uma seleção de recomendações de professores, os mais vendidos da Amazon e outros livros que os pais poderiam ler na hora de dormir.
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Venceslau Cobranças

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