quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Post do Luciano Esposto

Post do Luciano
A ETERNIDADE DO RELÓGIO

Meu avô paterno era o típico sujeito com todas as características dos avôs de antigamente. Era gordinho e tinha uma calvície quase que total (a semelhança não é mera coincidência, então..rsrs). Seus passos lentos causavam verdadeira aflição na garotada que teimava em acompanha-lo, apesar da luta contra a ansiedade comum da juventude. Dono de uma sabedoria “Euclidiada”, só abria a boca para falar o irrefutável e que, a essa altura, entendo o verdadeiro motivo: queria semear conhecimentos eternos em nossos corações juvenis, no foi feliz.

Mas a grande lembrança que tenho de meu avô vem das cenas sempre presentes dele ali, sentado na garagem da casa, debruçado sobre uma mesa cheia de relógios dos mais diversos com espaço apenas para o destinado aos reparos. Este era um ofício que aprendera como autodidata e que fazia por puro prazer. Até hoje não sei ao certo se isentava a cobrança por não se achar profissional e ser útil sempre lhe agradou ou se agia assim para deixar aos netos a mensagem de que “nem tudo que lhe dará prazer necessariamente precisa ter dinheiro junto”.

Lembro-me de ficar pegando e analisando os relógios do monte um a um. Notava suas diferenças e como seus fabricantes eram cuidadosos com os detalhes. Cheguei a imaginar como seria a vida sem os relógios e a necessidade de atrelar tudo que fazemos ao horário. Na minha inocência, permiti ao mundo que andasse mais lento, que as pessoas pudessem interagir mais umas com as outras sem interromper o assunto para sair sob o pretexto de perder a hora para o que fosse.

Hoje percebo que a intenção era tão válida quanto utópica, pois o tempo ficou cada vez mais escasso. Os relógios sumiram das cabeceiras, dos bolsos e dos pulsos para um segundo plano como parte dos fornos de micro-ondas, computadores e celulares. Ninguém mais precisa carregar um relógio, pois o relógio está em qualquer lugar ou em todos os lugares o tempo todo.

Por sorte, o relógio de pulso sempre será a paixão de uma grande quantidade de pessoas. Para alguns, motivo de regalo ou coleção. Para outros, a testemunha dos grandes momentos, um parceiro de grandes jornadas ou, quem sabe ainda, o responsável apenas por contar as horas ao nosso lado.
De qualquer forma, sigo o tempo como um privilegiado, pois guardarei no coração a infinita imagem do meu querido avô retirando do bolsinho, logo abaixo do cinto, seu relógio de bolso que lhe foi fiel até o último dia de sua vida. Nele, não contava apenas as horas mas refletia seu verdadeiro orgulho.

Luciano Esposto é poeta e escritor venceslauense.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou escrevendo, apenas para fazer um comentário, mas acredito que seja a opinião da maioria dos leitores do Blog. Nunca li uma postagem do Luciano Esposto! Não que não sejam boas, muito pelo contrário, acredito que todas sejam boas e de ótimo conteúdo. No entanto, caro Luciano, este não é o objetivo dos leitores do blog, que entram várias vezes ao dia para saber das novidades. Espero que me entenda e guarde suas obras para publicar em um veículo mais apropriado.

Anônimo disse...

nao meu caro leitor anonimo nesse blog tem que existir variedades se nao o que seria da liberdade de expressao