quinta-feira, 3 de maio de 2012

A infecção

Post do Luciano
A INFECÇÃO


Na primeira queda de temperatura, ao mesmo tempo em que nos agasalhamos, logo queremos saber o que comeremos para aproveitar o ameno do clima. Sei que, falando assim, faço parecer que todos são gordinhos e sempre pensam e comida como eu, mas imaginemos que todos fossem assim mesmo e sigamos com o raciocínio...


É um tal de pão com isso ou com aquilo ou, então, inventamos mais recheio para o pão que os próprios pães e presentes para comê-los quando não acabamos no mesmo lugar – um restaurante.


Dia desses fui ao restaurante e, feito o pedido, passei a imaginar como aquele ambiente fechado era nocivo. Logo ouvi uma senhora espirrar de forma tão empolgante que fiquei imaginando quanto tempo ainda teria de vida. À minha direita um homem de meia-idade (sei lá o que isso significa..rs) tomava café com sua esposa revezando os goles com inspiradas generosas para evitar a coriza, denunciando uma gripe daquelas. À minha esquerda um grupo de meninas pareciam combinadas a passar a noite com “nariz de rena” – vermelhos – e, muito provavelmente, entupidos.


Analisando a situação, lembrei-me da reportagem da TV que mostrara como o mundo moderno era contaminado por germes e bactérias. Na ocasião coletaram amostras em lugares comuns tais quais os canos internos do metrô, maçanetas de portas públicas e até o mouse caseiro de nossos computadores, provando que na vida moderna sobreviver fora de casa pode ser uma tarefa árdua e perigosa.


Decidi ir ao banheiro, pois já estava ficando meio cismado com aquela situação. Entrei e me posicionei para urinar percebendo quando um desconhecido, vestido de camisa branca e calça preta, terminou de urinar e saiu porta a fora sem lavar as mãos. Logo me vi descobrindo que, se as maçanetas das portas públicas eram lugares infectados, a do banheiro masculino certamente seria a pior delas. Claro que na minha quase meia idade já sabia disso, mas os olhos sempre trazem uma sensação mais chocante que meras palavras.


Sequei as mãos e fiquei prostrado olhando a porta do banheiro. A questão agora era saber em que ponto da porta ele haveria tocado ou, de outra forma, nada adiantaria ter lavado as mãos. Imaginei em qual ponto daquela superfície ninguém tocara ou tocara menos – nunca acreditei ser o único louco deste mundo – quando ouvi pessoas conversando e intuí que entrariam no banheiro. Me preparei e, ao adentrarem, saí sorrateiramente sem sequer tocar a porta.


Minutos depois, quando já terminava de comer uma porção, percebi que todos os garçons trajavam camisa branca e calça preta sendo certo que o infectante sujeito do banheiro poderia ser qualquer um deles. A essa altura notei que tudo poderia estar contaminado. Toalhas das mesas, talheres, copos e latas de bebida, incluindo guardanapos.


Terminamos e fui ao caixa. No caminho fui interpelado pelo homem de meia-idade estendendo- me a mão para um cumprimento, pois era um velho amigo da família. Passei perto das meninas com “nariz de rena” e a primeira levantou-se rapidamente para me dar um beijo seguida pelas outras, todas alunas de uma escola pública na qual desenvolvi um projeto – malditos óculos!


Tá certo! A senhora de espirro “esguichante” cumprimentei a distância apenas com a cabeça e por pura deferência.


No caixa saquei de uma onça para pagar a despesa percebendo que nada neste mundo seria mais sujo que uma simples nota de papel moeda. Porque dinheiro ninguém lava ou veste luvas para manusear. Ninguém recusa receber, esteja comendo, passeando ou no descanso do lar. A única certeza é que ninguém lava as mãos depois de pagar alguma coisa.


Luciano Esposto é poeta e escritor venceslauense.

2 comentários:

Anônimo disse...

MUITO ENGRAÇADO lUCIANO!! ADOREI SEU POST!! É BEM ISSO MESMO, É MELHOR NEM PARAR PARA PENSAR NUMA HORAS DESSAS.

Anônimo disse...

Muuuuuito bom esse post,haha só a verdade nada mais que a verdade (: