“Nomes, expressões populares e piadinhas
sem graça"
O guri e o
gari, o astrônomo e o astrólogo, o tarado e o tarólogo, o escritor e o
escriturário, o banqueiro e o bancário, enfim, todas as pessoas possuem
diferenças entre si; mas uma coisa, nós e eles temos em comum: todos temos um nome, que geralmente nos acompanha desde o registro de nascimento
até o epitáfio de uma lápide fria em um cemitério.
Mas como eu
não estou aqui para falar de morte, passagem ou transição para o além, vou expor neste texto como o brasileiro possui a mania de rotular e
estigmatizar tudo, inclusive os nomes próprios. Mas eu peço para que os que
possuem os nomes e vivem e as situações que irei relatar abaixo não se sintam
constrangidos. Trata-se apenas uma questão
de argumentação, pois eu costumo defender minhas idéias baseando-me em fatos,
não em hipóteses ou teorias.
Perceba que
ao longo dos anos, alguns nomes próprios passaram a ter um significado
estigmatizante, numa generalização descabida e preconceituosa. Isso se deve ao
sucesso de algumas expressões populares, comerciais e músicas, por exemplo.
Para não
alegarem que eu estou zombando apenas da
nomenclatura alheia, vou começar pelo meu nome. Caros leitores, quando eu era
criança, e até mesmo na adolescência, sempre aparecia algum engraçadinho com
aquela frasezinha manjada e óbvia: “Bonita camisa, Fernandinho!” No começo eu
até achava a brincadeira legal, mas com o passar do tempo, aquilo foi ficando
muito chato. Tudo isso graças ao comercial da US Top, onde um funcionário puxa
saco chamado Fernando, usava uma camisa igual a do seu chefe. Até hoje aparece
alguém e me diz essa frase ridícula, bem fora de moda, assim como as camisas
xadrez da US Top.
Agora, se
você é mãe zelosa, chama-se “Joana” e cuida bem de sua residência, creio que
deva ficar fula da vida com a expressão "casa da mãe Joana".
Compreendo tal indignação, pois eu também ficaria bravo com isso.
Mas
partiremos para uma situação ainda pior
: a do pobre coitado que se chama João e tem um braço amputado. Poxa vida, o
sujeito já está em uma situação complicada, e aí vem alguém e o taxa de
oportunista ou dissimulado. Não entendo
porque os espertalhões são chamados de
“João sem braço”, pois acho a expressão totalmente sádica e sem sentido.
Mário Lago
era um cara fora de série. Escritor, ator, cantor e compositor. Mas aquela que
talvez tenha sido sua maior composição musical serviu para estigmatizar as
mulheres com nome de “Amélia” como desprovidas de vaidade e exclusivamente
dedicadas à vida doméstica. Tudo o que a mulher atual abomina e não deseja para
si, inclusive a maioria das mulheres que se chamam Amélia.
Na contramão
das “Amélias”, estão as “Patrícias”, que com o seu nome apelidado no
diminutivo, tornaram-se sinônimos de meninas jovens, consumistas e fúteis.
Ainda na linhagem dos diminutivos,
também estão os “Maurícios”, sendo que “Mauricinho”, segundo o dito popular,
é aquele sujeito almofadinha,
engomadinho e geralmente, exibido. Conheço Patrícias lutadoras e Maurícios que
pegam pesado no batente.
Finalizando,
nem todo “Ricardão” cobiça a mulher do próximo, nem sempre é dureza casar-se
com a Tereza, assim como a Luzia pode ir tranquilamente atrás da horta, pois
isso não significa obrigatoriamente que ela irá se dar mal. Solidarizo-me
também com os “Manoéis”, carinhosamente apelidados por “Manés”, que na maioria
dos casos, não são tolos, como se diz por aí.
Taí, gostei
de argumentar em defesa desse pessoal, mas sinceramente, não estou vendo uma
forma interessante de encerrar este texto. Sinto-me numa situação difícil, numa
verdadeira sinuca de bico. E agora, José?
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