NESSA VIDA TEM TIRANO...
Fazer todo bem que se possa,
amar, sobretudo a liberdade e,
mesmo que seja por um trono,
jamais renegar a verdade.
Beethoven
Meu conterrâneo andava desacreditado... Atravessou uns dias sofrido, fraco e aflito. Tolhido da fé, até parecia que esperava apenas o fim dos tempos para se despedir dos tormentos e ajuntar os pés. Foi vítima do desalento... Disse ter sido honesto. Disse também que num outro instante acreditou haver justiça no mundo... E justificou assim a razão de se encontrar moribundo.
Cabra bom demais, direito e amigo. Mas que de tão bom provocou o inimigo. Não viu o perigo estampado no sorriso amarelo, na infinita promessa, nos tapaços nas costas, nos infindos apertos de mãos... E agora resmunga não acreditar em mais nada não... E insulta, fala mal e amaldiçoa ao trote adentro por esse rincão.
Hoje ainda, corpulento como é, mirou-me na cara e com uma profunda agonia, quase aos berros afirmou sua atual teoria: _ Pra quê viver, lutar, debater? _ Pra quê, querer tanto mudar o destino se o fim é morrer?
Diante do negativo, do desespero impresso naquela alma, de repente, sem ao menos um tiquito matutar, comecei a bater palma. Irritado, não quis contestar a sua sandice. Mais adiante, ainda no calor de seu discurso, lhe dei até razão... Era justamente aquilo que ele no fundo sabia que não tinha... Essa foi a minha provocação. E fi-lo chorar...
Cabisbaixo ele. Cabisbaixo eu. Ergui primeiro a fuça e atirei minhas palavras rumo em sua direção: _ Assim não te conheço, meu querido companheiro. Seja bem vindo ao mundo dos eleitos. Daqueles que escorregam, cambaleiam, mas não tombam... Dos que reequilibram dignamente, de vagarzinho, sem perder a direção. Senão acreditar, fazer o bem e amar, nada mais vale na vida não. Reclamar, falar mal e praguejar não adianta nada... Isso traz doença ruim, arruína o coração...
Paisano esse de compleição robusta... Grande das pernas, mas jovem na maturação. Bem por isso combati sua angustiada exposição.
Acanhado, ergueu-se sem pressa e estendeu a mão chutando o orgulho de lado: _ Desculpa. Realmente desconheço algum que vingou sem ter tido uma lição. Perdoa eu pela minha elocução. Era raiva! No vigor de sua prosa resgataste em mim aquilo que me fiz em formação. Precisava mesmo encontrar um amigo, matuto bom, pra me dar um chacoalhão.
Na verdade, não era plano tê-lo topado naquela grossa condição. Mas, foi a oportunidade de eu mostrar que na vida tem tirano, mas tem muito ser humano que faz boa ação.
*Ao agapeano amigo, professor Lourival Bortolin. Parabéns pelas dedicadas opiniões sobre as coisas de nossa cidade e generosa contribuição literária que se perpetuam por aqui por quase três décadas. Dessa forma, constrói do seu carinhoso modo, as páginas da história de nossa querida Joia Ribeirinha. Meu respeito e admiração!
Fernando Olmo é educador.
Pertence a AGAPE – Academia Geral das Artes de Presidente Epitácio
Blog: http://olmo.zip.net
E-mail: fernandoolmoprof@hotmail.com
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