Fernando Olmo
FILOSOFIA DOS CINCO ANOS
Uma garotinha linda, de cabelos negros e com uma janelinha nos dentes da frente, precisamente na idade pré-escolar pula no colo do Papai Noel.
- O que você quer ganhar de presente? – o Noel pergunta.
O bom velhinho, estupefato, não estava preparado para a sequência:
- Primeiro, eu quero saber de onde vem o seu dinheiro? Quem paga a sua passagem do Pólo Norte até aqui? É alguma empreiteira? E aqueles duendes, eles estão levando quanto na jogada? Olha aqui, eu não quero me envolver em nenhum escândalo, mas esse negócio de ganhar presente só quando eu estou boazinha tá me cheirando a corrupção.
[O narrador]: Mudou tudo e não avisaram você?
Propaganda do Jornal “O Estadão”
Sentadinho no banco traseiro do carro ele olhava calmamente as casas passar. Era domingo. Dia menos corrido dos embalos da labuta e oportuno para polir a amizade entre pai e filho. Discretamente, espiava-o pelo retrovisor interno [peça automotiva que naquele momento perdera a sua função de fábrica e servia apenas para refletir o delicado e gracioso jeitinho do meu menino]. Com ele, cinco quarteirões se passaram, por sinal, muito rápido. O tempo nos transportou na velocidade de uma quinta marcha durante as primaveras de alegria sem fim…
- Pai, vamos embora? Tá ficando escuro.
- Sim, filho. Já estamos indo! – respondi com a mesma sensação de uma criança ao deixar uma brincadeira que gosta muito.
- Pai, quem fez a noite?
Misericórdia… Não tinha como explicar o movimento de rotação da Terra, etc, etc, etc… Procurei ser breve e objetivo, então.
- Foi Deus, filhinho. Ele faz tudo! O dia, a noite, o frio e o calor…
E ele continuou.
- Onde é que Ele fica, pai?
- Lá no céu, meu queridinho. Pra cuidar de nós e de todo mundo. - boquiaberto, tentava convencê-lo, após essas surpreendentes, complexas e filosóficas perguntas.
Achei que tivesse terminado. Eis que ele me mandou outra inimaginável.
- Pai, tem uma escadinha pra Ele subir lá no céu? Tem uma cama lá em cima pra Ele? – talvez na sua cabecinha, Deus estivesse de guarda de prontidão, lá nas alturas, cuidando-nos.
Não poderia frustrá-lo. E, não poderia me complicar também…
- Sim, Arthurzinho. Tem sim. Aliás, tem cama, casa, conforto. De tudo! Ele mora em um lugar muito bonito. O céu é um paraíso [sem me deter que, certamente, meu moleque poderia não entender nada sobre o paraíso].
- Deus fica lá com os santos e os anjinhos, pai?
- Isso mesmo, meu menininho. Todos os santos moram lá com Ele! – respondi, sem esperar pela próxima que doeu como um golpe.
- Papai, sabe de uma coisa. Agora eu torço pelo Santos.
Aí sim, hein… Ele começava na sua doce inocência me deixar aborrecido. Era só o que me faltava. O garoto foi concebido num confortável manto sagrado alviverde, recebendo durante todo esse tempo uma educação continua pelo verdão. Isso é arte da família da mãe dele [santistas doentes] – pensei.
Estacionei o carro em frente ao portão de casa. Abri a porta para o meu rei descer. Quando ele me olha e abaixa a cabeça balançando-a aos extremos. Finaliza a conversa com manha.
- Ah, pai… É que meus colegas lá da escola falam que o Palmeiras só perde. E o senhor não disse que Deus está com o Santos?
Morri!
FERNANDO OLMO é Educador!
Pertence a AGAPE – Academia Geral das Artes de Presidente Epitácio
Blog: http://blogdoolmo.wordpress.com/
E-mail: fernandoolmoprof@hotmail.com
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