terça-feira, 31 de março de 2015

Psicologa

Continuação
RESSENTIMENTO
Psicologa Célia Arfelli

Toda criança tem de vivenciar a relação de ter sido excluído da relação dos pais, ele é o terceiro excluído, e nesta fase ele tem de elaborar esta falta. Esta é a fase mais importante de seu desenvolvimento para estabelecer a noção de si e do outro. É aí que a criança tem de perceber que ela e os pais são separados, e ela não é tão poderosa e tão onipotente como imaginava. E que os pais têm uma vida própria e que não vivem para satisfazê-la somente. Este é o ponto em que futuramente o ressentido se fixa, este lugar que ele não aceita ter perdido. Existe uma certa passividade no ressentido como se ele tivesse como uma criança diante de uma autoridade. Como por exemplo, os pais da infância que tem de cuidar de mim, se não cuidou eu me queixo eu reclamo. Não sou eu que tenho de cuidar de mim, existe aí certa infantilização, certa passividade na formação ressentida.

O ressentido acredita que o lugar ideal e agora perdido era dele por direito, era um lugar que ele não precisava conquistar mais que alguém roubou este lugar dele. A criança ocupa um lugar nas fantasias inconscientes dos pais, e os pais são considerados pelo ressentido como os primeiros responsáveis e, sobretudo como os principais devedores do mundo mágico e idealizado perdido e da qual ele deseja retornar. O ressentimento é uma tentativa inconsciente e pouco saudável de reparar então esta relação idealizada de si e do outro.

Primeiramente para o ressentimento acontecer, a pessoa estabelece uma relação de dependência com o outro, como se fosse uma relação de dependência ou um desejo de proteção infantil de outra pessoa. É uma relação de dependência onde acredita que o outro irá protegê-la, ela delega ao outro a capacidade de tomar conta da vida dela e fazê-la feliz e não deixá-la desamparada. E assim se exime completamente da responsabilidade por suas próprias escolhas. O que o ressentido não se lembra é que esta é também uma escolha dele.

Muitas vezes esta proteção não acontece na pratica, mas isto não tem problema, a pessoa que tem esta característica de ressentir-se depois, quando ela coloca-se nesta situação de dependência, ela nem precisa ser tão protegida, tão amparada. O que importa é o vínculo que ela estabelece com a outra pessoa, é como se ela preferisse não se sentir livre contanto que não se sinta desamparada, é a base da servidão voluntária. A liberdade tem um preço, o preço de nós arcarmos com as nossas escolhas. A pessoa que tem esta base aonde vai se instalar o ressentimento ela prefere mil vezes que o outro a maltrate, do que ela ficar livre e ter de arcar com suas questões e com seu próprio desamparo. Às vezes ela está tão na dependência do outro, com tanto medo de arcar sozinha com sua vida, de pensar o que fazer com sua liberdade, que ela pode entrar numa relação de masoquismo com o outro, que é muito grave.

Sequência do texto amanhã, ás 9h.
_____________________________________________________

W.E.M Gesso & Decorações

Nenhum comentário: