quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cem anos de Hélio e Jorge

Espaço do Nando
CEM ANOS DE HÉLIO E JORGE


Na semana passada, mais precisamente na quarta-feira, tive o prazer de ler um texto escrito no Jornal Integração pela Srª Maria Ângela D'Incao, onde a mesma fez uma breve análise das obras de Hélio Serejo, bem como dos personagens de origem humilde que faziam parte das narrativas do escritor. Curiosamente, dois dias após à leitura, assisti no “Globo Repórter”, uma matéria sobre o renomado escritor baiano Jorge Amado.


Mediante as informações da leitura e do programa televisivo, bem como de uma pesquisa realizada posteriormente, foi inevitável traçar um paralelo entre algumas semelhanças na biografia e nas obras destes dois grandes escritores. As coincidências iniciam-se já no ano do nascimento: ambos são de 1912, sendo que Hélio é do mês de junho, e Jorge, do mês de agosto. Como consequência, neste ano, estão sendo comemorados os centenários destes dois ícones da literatura, infelizmente, já falecidos.


Hélio Serejo escreveu com grande riqueza de detalhes e maestria a realidade sul-mato-grossense da sua época, bem como a cultura daquele estado, a luta, o trabalho e o contexto social em torno da produção do mate. As concessões monopolizadoras da produção para a Cia. Matte Larangeira, o avanço da fronteira agrícola sobre as reservas indígenas e a luta dos pequenos produtores pelo direito de cultivar a erva, foram elementos marcantes no contexto histórico que certamente serviram de inspiração para boa parte das obras de Hélio Serejo.


Jorge Amado também incluía no enredo de algumas de suas obras, o famoso “ciclo do cacau” em território baiano. O acadêmico descreveu de forma primorosa o poder exercido pelos “coronéis” detentores dos meios de produção, o avanço da fronteira agrícola sobre a mata atlântica, a pressão sofrida pelos pequenos proprietários para que vendessem suas terras, bem como os conflitos gerados por este contexto.


O Estado Novo de Getúlio aprisionou Hélio Serejo em 1935, sob a acusação do escritor ter participado do levante comunista contra o governo ditatorial. Após provar sua inocência, o romancista retornou ao Mato Grosso. Jorge Amado também foi prisioneiro do regime, em 1936, sob a mesma acusação de ter integrado o levante vermelho. O baiano, por sua vez, era sim, militante comunista, sendo posteriormente eleito deputado federal em 1945, pelo PCB. Tanto Hélio, quanto Jorge, exerceram atividades profissionais na imprensa. 


Ambos nasceram no interior dos seus estados, falecendo nas suas capitais. Itabuna (BA) e Nioaque (MS), foram as cidades natais de Amado e Serejo, respectivamente. Por outro lado, Salvador e Campo Grande foram as localidades em que o baiano e o sul-mato-grossense, viveram os últimos dias de suas vidas.


O sincretismo religioso, a miscigenação, a presença marcante de cultura negra na formação social baiana, bem como a sensualidade de suas musas inspiradoras, foram temas frequentemente abordados por Jorge Amado. Nos romances de Serejo, a influência dos paraguaios e indígenas na formação social do Mato Grosso do sul, bem como a participação efetiva da mão de obra feminina nos ervais, estavam presentes em suas obras literárias.


Hélio Serejo e Jorge Amado: dois ícones de nossa literatura, que fizeram das suas realidades regionais, temas inspiradores para que as culturas do Mato Grosso do Sul e da Bahia se tornassem mais conhecidas dos brasileiros, através da escrita. Que sejam comemorados, com muita justiça, seus respectivos centenários.


Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.

3 comentários:

Anônimo disse...

COMO É BOM LER TEXTOS BEM ELABORADOS COM RIQUEZAS DE CONHECIMENTOS,MUITO BEM FERNANDO!.FICO FELIZ DE SABER QUE NEM TUDO ESTÁ PERDIDO. OXALÁ TODOS RECONHECECEM A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA VIDA DO SER HUMANO! A LITERATURA E O ACONHECIMENTO SOBRE DEUS,CAMINHAM PARALELAMENTE POIS AMBOS NOS FAZ VIVER EM ESTADO DE GRAÇA.....!

Anônimo disse...

TEXTO FEITO COM CAPRICHO. CONTINUE.

Julye disse...

EXCELENTE texto!!
Riqueza de conhecimento passada do autor para o leitor e do leitor para toda a vida!
Parabéns Fernando!
Valeu a pena ter lido o seu artigo!