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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Psicologa

Continuação
RESSENTIMENTO
Psicologa Célia Arfelli

Quando a relação de dependência está estabelecida e a pessoa está submetida ao outro, nem sempre as coisas acontecem como ela gostaria que fosse muitas vezes o outro vai frustrá-la, vai decepcioná-la, vai magoá-la, ou irá fazer alguma coisa que irá incomodá-la.

Um exemplo de uma relação de dependência amorosa ou de trabalho que a pessoa se joga completamente ali e se coloca inteiro, depositando todos os seus sonhos, todo seu desamparo. Joga tudo naquela relação e de repente o outro não dá conta, e nem tem que dar, ou de arcar com esta responsabilidade de fazer o outro feliz, de atender a demanda do outro o tempo todo, de estar sempre presente. E aí o nosso ressentido vai começar a sentir esta dor, vai começar a sentir esta ferida, vai começar a perceber que o outro não está ali para atendê-lo o tempo todo, e que o outro às vezes é áspero e cruel, ou não está na relação como ele idealizava que ele merecesse, ou que está cansado da relação. Ele tem de se confrontar mais uma vez de que seu mundo não é mágico e ideal como imaginava, e ele têm de lidar com a limitação e com a falta. E o mundo dele desaba mais uma vez.

Assim a pessoa com predisposição ao ressentimento começa a sentir-se ferido, machucado, doído e começa a se colocar no lugar de vítima. Ela começa a se fazer de vítima deste algoz, que na realidade de algoz não tem nada. Porque as pessoas só fazem conosco aquilo que nós permitimos. E porque nós permitimos aí é motivo de cada um. E algo de fundamental importância é a pessoa ressentida enxergar a sua escolha naquela relação, pois nós temos uma defesa muito cega de projetarmos a culpa somente no outro, e nos eximirmos de nossa responsabilidade por aquela escolha relacional, ou mesmo por mantê-la tanto tempo, mesmo sem possibilidade de alterá-la. Ou de nos deprimirmos por ver que aquela relação não foi tudo que imaginamos e aí a gente pode sair dela, e dar continuidade em nossa vida. Admitir que perdemos, e falhamos em nossa escolha.

O ressentido começa então a culpar o outro pelos seus dissabores. Só que esta acusação no caso de ressentido ela é silenciosa, ele não coloca em palavras. Ele se sente vitimizado mais não revida e se cala. O ressentido é alguém que não reage externamente porque por dentro ele está para morrer. Se a causa do ressentido fosse colocada para fora, fosse verbalizada, ele falasse não admito ser tratado desta forma, não vou me submeter aos seus mandos e desmandos, não vou me submeter à sua tirania. Só tem tirano se tem servo. Não me submeto, estou fora, se ela conseguisse fazer isto, ela não precisaria alimentar ressentimento depois, só que não consegue. Aí entra um trabalho psicanalítico para investigar o que está acontecendo e para dar capacidade de reação para esta pessoa.

Porque na vida você não pode deixar que te batam duas vezes, a primeira tudo bem, a segunda ou você foge ou enfrenta. O ressentido não revida, ele se mantém sendo agredido sem revidar, e aí a defesa se torna uma vingança na fantasia, o ressentimento é uma vingança imaginária e adiada. Porque o ressentido não quer esquecer esta mágoa? Porque com esta queixa ele pretende que o outro, em que ele atribuía a culpa pelos seus males sofra, se arrependa, e se sinta culpado nem se for no ” juízo final”. Ele pretende um dia ainda mudar o outro.

O ressentimento produz um envenenamento psicológico. Porque este impulso agressivo, que seria vital e saudável diante de uma ofensa, diante de uma agressão e de um maltrato, se ele é proibido de se exercer, ou por covardia ou por excesso de moral, ele se volta contra o próprio sujeito. Ele se volta contra aquele que se proibiu de ter um ato defensivo de ter um ato agressivo a favor de si próprio. Ele passa a ruminar em si estes sentimentos ruins de mágoa, de ira e de inveja, que ele não conseguiu resolver porque ele se anulou. Ele vai se confundindo com estes sentimentos maléficos, porque ele só abriga maus sentimentos, justamente porque ele não conseguiu resolver aquela questão do agravo de uma vez por todas.

O texto foi baseado em pesquisas no livro sobre Ressentimento de Maria Rita Kehl.
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