Deixar o filho dormir na cama dos pais pode causar prejuízos sérios no desenvolvimento psíquico e sexual da criança.
Esta é uma questão especialmente relacionada à falta de autoridade e firmeza dos pais em fazer esta separação e corte. Refere-se também a superproteção onde se idealiza um sistema de cuidado ilimitado pelo filho, uma redoma protetora exagerada e contraria a vida. Outra questão é a culpa por estar o dia todo longe dos filhos e que dormir junto compensaria a falta e a ausência, imaginando-se que supriria a longa jornada distante. Igualmente difícil para os pais ou familiares perceberem esta questão como prejudicial e não conseguirem alterar a realidade. Acredito ser esta uma resistência inconsciente, dado a tamanha oposição em perceber a necessidade de ruptura com este padrão de comportamento. Havendo casos de se chegar à adolescência com os filhos dormindo com os pais, e estes, mesmo sendo orientados não conseguem alterar e fazer a mudança.
Observa-se na pratica clínica que quando os filhos estão dormindo na mesma cama do casal, este é apenas a “ponta do iceberg”, outras questões relacionais também estão atrapalhadas nesta dinâmica familiar.
Há vastos estudos que afirmam que a criança em seu desenvolvimento atravessa fases e que precisa ultrapassá-las. A criança que está na cama dos pais fica “estrangulada” e dividida; pois uma parte dela fica ainda regredida, aprisionada em uma fase primitiva e simbiotisada, e a outra parte deseja por avançar em seu desenvolvimento. Se nada for feito no sentido de apoiá-la para avançar; há uma tendência de ela ficar “esgarçada”, fragmentada e em conflito, com dificuldades em ficar inteira, segura, completa e independente. Então os pais que deixam os filhos dormir juntamente em suas camas está atrapalhando e prejudicando o desenvolvimento dos seus pupilos.
Outro dado que às vezes os pais talvez desconheçam é que dormir com os pais atrapalha as funções do desenvolvimento sexual. Imaginando-se que a criança não tenha sexualidade, mas ela tem sim uma sexualidade infantil, ainda não passaram pelas transformações hormonais que acontecerão na puberdade e adolescência, mas na sua sexualidade infantil ela tem suas energias e pulsões.
Tem comportamento que a gente precisa ajudar a criança a passar por eles, sem que a gente com a nossa angustia, acumular e levar para esta criança mais coisas do que ela já tem para resolver. Por exemplo, os pais que por alguma razão consciente ou não resolve de deixar os filhos dormir com o casal. Como todos os movimentos de desenvolvimento da criança vão se dar em uma condição inconsciente, nós já sabemos que o estar no meio da cama dos pais vai se dar em uma condição muito carregada de energia. Quando nós interferimos, às vezes por falta de conhecimento, e sobrecarregamos, ou seja, colocamos uma carga a mais dentro desta criança, nós podemos estar atrapalhando muito. Nesta resolução a criança pode começar a mudar as coisas de lugar dentro dela.
E o EGO da criança fica sem condições de dar conta daquela emoçãozinha, daquela energia pulsional que já vinha de uma forma normal. E ela pode arrumar outros caminhos diferentes e mais atrapalhados para lidar com aquilo que está sentindo.
Quando você põe a criança para dormir com o adulto, você sem saber pode estar estimulando uma carga de sexualidade que não precisava ser “burilada” e trazida à tona naquele momento. Você erotiza sem querer a criança e ela ainda não tem maturidade para entender e lidar com aquela pulsão. O complicador é que a criança (menino ou menina) para se livrar destas cargas extras de energia e impulsos podem fazer algumas alterações em sua constituição psíquica para se proteger de desejos proibidos, no caso pelo papai ou pela mamãe, alterando ou confundindo sua identidade sexual. Um exemplo é o menino ficar muito intimamente dormindo com a mãe, pode inconscientemente identificar-se com esta em razão desta intimidade. Ou ainda para se defender dos desejos libidinais que pode sentir como menino pela mãe, que assim sendo “menina” igual à mamãe não lhe ameaçaria. Ele assim atrofia a sua pulsão masculina para poder ficar pertinho da mamãe sem ameaça. Em uma linguagem simbólica é como se ele “cortasse o pipi”, e assim não ter perigo de dormir com a mamãe.
Igualmente prejudiciais são os pais que tem relacionamento sexual no mesmo quarto que os filhos, achando que por estarem dormindo não percebem nada. Grande engano, a criança mesmo estando dormindo é perceptiva e ela não tem entendimento ainda para a sexualidade adulta dos e pode ficar cheia de fantasias, medos e assim confusa e amedrontada. O casal tem de trancar a porta do quarto certificando-se de que a criança não entrará, se necessário até um som ambiente pode ajudar para tornar bem privativo a intimidade do casal. Uma pergunta que se tem de fazer aos pais hoje é como anda a sexualidade deles, o que está acontecendo com a intimidade do casal, pois esta pode estar sendo também a causa de estarem mantendo a situação. Abrir mão da sexualidade e intimidade deles em função de trazer o filho pra mesma cama é prejuízo para todos.
O casal tem de se perguntar se estão deixando a criança no meio deles justamento por conta de algo na sexualidade deles estar deficitário e com problema. E o filho no meio ameniza e disfarça a intimidade e a sexualidade com problema. Onde de todas as formas o mais prejudicado é o filho, o que tem menos recursos para decodificar e entender os mecanismos inconscientes dos pais em manter tal comportamento.
Tenho percebido que os pais estão tão acostumados a seus filhos no meio deles que quando a gente propõe esta alteração eles ficam mais ressentidos que os filhos, e nas primeiras noites não conseguem dormir sem a presença do filho junto a eles. O que podemos justificar serem os pais que estão com dificuldade e dificulta isto para os filhos.
Um manejo para tirar a criança de dormir com os pais é conversar e explicar para ela claramente a situação, dizer que é assim que será e cumprir isto, convicto de que estará realmente ajudando o filho a crescer bem. Nas primeiras noites um dos pais vai com a criança para o quartinho dela e aguarda até que esta durma. Utilize um abajur e deixe às primeiras noites as portas dos quartos abertas, pois ele pode sair se sentir medo durante a noite ou chamar os pais, que retornarão com a mesma levando-a ao seu quarto. Isto não é nada simples, dá muito trabalho no inicio, mais é de um ganho incalculável para o desenvolvimento da criança.
Outra dica é para os pais com filhinhos pequenos que comecem desde cedo ao filho dormir sozinho em seu próprio quarto, isto ajuda muito no desenvolvimento dele, ficando uma criança mais segura, independente, calma, autônoma, lidam melhor com limites e tem noção mais clara do eu e do outro, e tem melhor desempenho em seu relacionamento interpessoal e intelectual.
Célia Arfelli é psicóloga, especialista na área Jurídica e Pós Graduada em Psicopedagogia. Seu consultório em Presidente Venceslau está localizado na Rua Bernardino de Campos, 348. Telefone (Vivo) 99690-5595.
Adorei o artigo, pois vivo esta situação em minha casa.
ResponderExcluirA explicação foi muito esclarecedora!
Quero saber eu vivo depressivo e tem condição de fazer tratamento para melhorar minha situação, li sua explicação e gostei muitos...
ResponderExcluiramigo depressão tem que ser tratada seriamente pois acarreta muito sofrimento e dor procure ajudar certa sim tem meios sim de trata-la mas o primeiro passo tem que vir de vc...abraços e que consiga sair dessa.
ResponderExcluirpassei por isto ontem obrigado pela explicacao
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