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sábado, 6 de dezembro de 2014

Saúde

Um Brasil doente e desenganado 

         A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda para países europeus a relação de um médico para cada mil habitantes, com ressalva desta relação não ser aplicada outros países, uma vez que depende de características geoeconômicas  pontuais. Nem a OMS, tampouco a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) definem números desejável de médico por habitante nem recomendam um único parâmetro ou meta para o Brasil.
         Esta pouca atenção e falta de definição estatística para alimentar o governo brasileiro na manutenção da sua visão míope de que faltam médicos no Brasil. Creem (ou por interesses escusos, preferem acreditar) que é preferível fornecer a população um médico mal formado, a não oferecer nenhum. O projeto " Mais Médicos" é a prova inconteste do descompromisso com a serenidade que requer o exercício da medicina. Sobreleva a ausência de política públicas para a melhora do cenário da saúde brasileira.
          Países com o Estados Unidos e o Canadá implementaram o recrutamento de profissionais da saúde para complementar o quadro de médicos naqueles países. A sobeja diferença é a primazia da qualidade destes profissionais admitidos, verificada amiúde em formação e competência. No Brasil, o que foi, e está sendo feito é justamente, o inverso. Regras de certificação médica, criadas pelo próprio governo há anos, como a Revalida e outros, foram atropeladas com a mesma brutalidade, descortesia e desinteresse com que ouviu o manifesto contrário do do Conselho Federal de Medicina e a classe médica brasileira.
         A problemática não seria o bastante, se o poder público, por meio de sua falseta ideológica, não culpabilizasse os médicos brasileiros pela falência da saúde pública no Brasil. Taxaram-nos de elitistas, insensíveis e até desumanos em não trabalhar em vazios assistenciais, e/ ou na rede pública. É evidente, para nós médicos, que o que falta não são novos médicos "importados" ou não. O que falta é a efetiva solução para o fim da desigualdade da distribuição geográfica dos 394.947 médicos brasileiros em exercício, e para os ( estimados) 21.505 novos profissionais médicos que se formam anualmente. Ademais, o que ocorre é que exercer a medicina, numa época em que cada vez mais pacientes, familiares e Ministério Público entram na Justiça alegado o "erro médico.
         Médicos são atraídos por promessas de prefeitos a trabalharem em pequenos municípios, com justa remuneração e outros benefícios que não sustentam por mais de três meses, quando então sofrem calote e/ ou são substituídos por novos incautos ludibriados pelo modo engodo. Sem nenhuma garantia trabalhista, estes médicos se tornam massa de manobra eleitoreira.
         Parafraseando ascoroso personagem da política brasileira recente: " nunca antes na história deste pais", houve tantos médicos em atividade. Ocorre que isto seria bastante salutar se não fosse um anuncio de um breve colapso no mercado de trabalho médico. Há um notável desequilíbrio com a redução de taxas de crescimento populacional, e a abertura de escolas médicas e vagas em cursos já existentes. Domam-se 243 escolas médicas no Brasil (este era o número até a confecção deste artigo). Estamos atrás apenas da Índia (272), em número de escolas, porém superamos em número de médicos formados. Um detalhe: a população da Índia: 1.276.432.980 habitantes; população do Brasil: 203.465.233 habitantes.
          O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo publicou os resultados da avaliação de 2.843 médicos formados em 2013 no Estado de São Paulo. Destes, três em casa cinco não atingiram a nota mínima de suficiência e / ou conhecimentos básicos. É um cenário desolador, e assustador ao imaginar que muitos destes estarão em frente de plantões de emergência, para onde qualquer um de nós podemos ser levados vitimados por um acidente ou um grave mal súbito...
          E assim vão pululando, o Brasil a fora, tipos de escolas, rotuladas faculdades de medicinas, sem nenhum critério qualitativo.
         Sei que muito do que foi dito até aqui pareça de pouco valor a população não médica, mais é um grito surdo de um classe que trabalho no SUS ( Sistema Único de Saúde) sem reajuste desde 1998, que trabalha por meio de convênios, sem reajustes de honorários desde 1992!
          Em meio a "Mensalões", "Petrolões " é de causar absoluta revolta, senão vergonha de ser brasileiro. Tomamos-nos reféns destes vendilhões de pátria, que dão de costas para a penúria da população brasileira, sobretudo os menos favorecidos, em meio a insegurança, a corrupção, a ignorância, onde o único fio de esperança desta população desassistida , a assistência a saúde, um meio de assegurarem-se vivos, parece estar se rompendo. Imagino quantos hospitais poderiam ser construídos ou adequadamente  equipados com os bilhões de reais desviados nas mais sórdidas manobras políticas e de ladroagem.
           E assim seguem os embusteiros instalados no Planalto Central, a oferecer um pouco de pão (esmola também conhecida com Bolsa Família) e circo, culpando os médicos e a falta deles, pela barafunda na saúde brasileira.

* Dênis Calazans Loma - O Imparcial

4 comentários:

  1. Senhor Jornalista até pouco tempo pensava eu assim mesmo sobre o bolsa família. Mas depois observei que tem crianças que vão a escola para comer. O buraco é mais embaixo. Séculos de atraso e falta de uma política séria e comprometida realmente com nosso povo. Não sou do PT, mas enxergo que governo anteriores causaram um abismo entre os que precisam e os que sempre ganharam mais e mais e enriqueceram a custa dos outros. O derrotado candidato a Presidência, o agressivo e desequilibrado fulano de tal que não iria melhorar isso. Isso vai exigir muito trabalho. E pra nós resta mais paciência, reflexão e coerência. O problema é grave mesmo! E os verdadeiros culpados não vão pagar.

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  2. Tomamos-nos reféns destes vendilhões de pátria, DE QUAL DO PETROLÃO OU DO TRENSALÃO? FARINHA DO MESMO SACO.
    E viva o dom quixote!

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  3. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1558372-promotoria-pede-devolucao-de-r-418-mi-por-cartel-em-contratos-da-cptm.shtml

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  4. O cara é cirurgião plástico, não bate um prego pelo SUS (só atende particular e convênio) e vocês vão dar crédito à um médico dessa estirpe? Outra coisa, onde médico do Programa Mais Médicos tem levado problemas? Em todo lugar se vê a aprovação dos mesmo. Cara chato esse aí!

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