quarta-feira, 24 de abril de 2013

Post do Fernando Freitas

 Espaço do Nando 
“Complexo de vira-latas”

A expressão foi criada pelo polêmico e brilhante escritor Nelson Rodrigues para explicar o nosso sentimento de inferioridade logo após a derrota na final da Copa do Mundo de 1950, quando sucumbimos diante dos uruguaios em pleno Maracanã. Segundo Nelson, este complexo de inferioridade não estava restrito apenas ao campo futebolístico, mas incluía também aspectos sociais, culturais e políticos da população brasileira. Pois no último domingo, assistindo uma matéria no Fantástico, muito bem conduzida pela jornalista Sônia Bridi, eu admito: fui acometido pelo complexo de vira-latas.

Para quem não viu a reportagem, a mesma referia-se à morosidade, às imensas falhas e aos superfaturamentos ocorridos na construção da famosa ferrovia Norte-Sul, projetada com o objetivo de integrar os dois extremos do nosso país, desde o Pará até os pampas gaúchos. Porém, o que se vê atualmente é um amontoado de imperfeições e irregularidades na obra, sendo que somente uma pequena parte da ferrovia está em funcionamento, correspondente ao trecho entre Açailândia (MA) e Palmas (TO). É muito pouco para um projeto que teve seus trabalhos iniciados em 1987.

A reportagem salientou ainda que dentre os Brics (bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) somos o país dotado de menor infraestrutura de portos e ferrovias, o que diminui consideravelmente nosso potencial de desenvolvimento, bem como a competitividade dos nossos produtos no mercado internacional. E competitividade produtiva significa geração de divisas, emprego, renda e qualidade de vida para o nosso povo.

Só para dar outro exemplo de nossa inferioridade no campo da infraestrutura, enquanto por aqui discutimos quando será concluída a nossa primeira linha de trens de alta velocidade para passageiros, na China, os “trens-bala” proliferam-se, interligando as grandes cidades daquele país. E aí fica a pergunta: era mesmo hora de pensar em sediar eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, tendo tantas prioridades e gargalos estruturais a serem equacionados? Com o passar do tempo, fico cada vez mais convicto que não.

Em 1958, na Suécia, triunfamos pela primeira vez em uma Copa do Mundo, superando, ao menos no campo futebolístico, nosso “complexo de vira-latas”. Porém, com relação aos aspectos do desenvolvimento, da infraestrutura e da competitividade produtiva, vejo que existe um distante e árduo caminho até o primeiro mundo. Um caminho bem mais longo do que o da superfaturada e inacabada ferrovia Norte-Sul...

Fernando Freitas é funcionário público estadual e escreve às quartas feiras.

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