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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Post do Luciano

Post do Luciano
SANTA MARIA

Difícil sentar para escrever sem relembrar do episódio em Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Por mais que a mídia venha explorando o assunto à exaustão, impossível conviver com a ideia de que, enquanto vivemos o cotidiano, tem uma cidade inteira que chora compulsivamente seus mortos. Adolescentes na flor da idade, filhos que saíram para a balada e retornaram dentro de caixões.

Falar da dor de outros isentando nosso próprio sentimento, neste caso, é algo impossível. A adolescência é, sem dúvida alguma, nossa melhor parte na vida. É nela a residência dos melhores sonhos de futuro e felicidade, e onde as dificuldades nunca assustam, fazendo do possível uma questão de luta e determinação.

Fomos assim, adolescentes, inexperientes, e inconsequentes e, talvez nestes adjetivos, estejam guardados o grande brilho dessa fase.

De uma visão mais poética o filho adolescente representa a fase mais viçosa do nosso jardim. É quando as plantas, no melhor de seu viço, lançam suas flores para a contemplação dos pais, mostrando que o cuidado e o adubo fornecido pelo amor foram na medida certa. E como flores não são eternas, o período tem data para acabar, restando na memória, apenas a lembrança de fotos mentais que se replicam.

No entanto, ninguém tem o direito de pisar neste jardim esmagando nossas flores, extirpando suas vidas. E justamente aí reside a indignação coletiva. Em algum momento serão apontados os culpados seja pela insanidade de acender um sinalizador em ambiente fechado, ou pela omissão em licenciar um ambiente que só dispunha de um acesso de entrada que também servia de saída de emergência, ainda que tivesse obstáculos como catracas controladoras de fluxo.

Que diferença fará aos mortos se alguém será punido ou apenado com algum tipo de pena branda como sempre se vê nestes casos e se isso irá acontecer somente depois de uma década de ações judiciais e recursos infindáveis?

O respeito à vida precisa ser maior que isso, afinal, algumas flores jamais florescerão duas vezes.

Meus sentimentos a todos aqueles que choram em Santa Maria.

Luciano Esposto é poeta e escritor venceslauense.

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