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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Artigo

Depressão ou Tristeza?

O estado depressivo tem sempre, de alguma maneira, origem em experiências traumáticas, no sentido de que uma perda fundamental deixou uma marca irreparável na integridade do sujeito. Refiro-me à perda aqui, no sentido daquilo que pode significar alguma perturbação afetiva ocorrida na etapa mais precoce do desenvolvimento. A qual deixou sua marca sob forma de certa impotência, em relação aos contatos afetivos, que permitiria o sujeito buscar recursos para se proteger frente às situações de frustração.

Nos casos em que a depressão se transforma no modo predominante de defesa contra o convite à, pode-se afirmar que o sujeito voltou para si toda a energia psíquica possível, na tentativa de elaborar essa dolorosa perda, mas esse luto parece não poder se cumprir: a certeza da interrupção do contato afetivo é tão grande que é preciso encená-la para abreviar a angustiante espera.

O deprimido, frente à perda convoca a “frieza” para reduzir a dor da espera, não há possibilidade de substituir a relação afetiva atual, por outra, em que haja fluxo de amor. Já não espera mais ser feliz. Já não quer esperar. Já não quer desejar. Esta fixação do deprimido a uma mesma situação de satisfação revela o medo de substituir uma satisfação específica por alguma outra, já que na verdade há sempre perdas e ganhos em toda substituição. Entretanto, esta melancolia torna inviável a continuidade da vida, que por sua vez exige os investimentos de amor e as substituições dos objetos de amor.

Além disto, para que o passado possa de fato ser resolvido através do trabalho de luto, e abra espaço para uma nova possibilidade de vida é preciso acreditar que vale a pena apostar no desvio, e parece que é essa convicção que falta aos deprimidos patológicos.

O que imobiliza o funcionamento psíquico, levando a morte psíquica, ao desejo de morrer, de isolar-se, de desaparecer, de tornar-se completamente mudo, leva ao sentimento de impotência para recuperar o objeto perdido, a autoestima, o prazer de viver, a possibilidade de amar, de relacionar-se, de aprender.

A possibilidade de estar com os outros, de vitalizar-se com o que é diferente e uma viagem para dentro, às vezes sem volta, tem lugar, buscando restaurar um estado anterior de coisas, penando pela relação de amor desfeita, pela juventude irrecuperável, sem nunca poder encontrar, porque o que se busca está irremediavelmente perdido.

O amor dirigido a si mesmo promove uma economia dos investimentos objetais e garante certa independência do mundo externo. Na medida em que esse auto-amor consegue proteger as relações das decepções a que se fica sujeito ao investir o mundo externo.

Em seu discurso o deprimido mostra muito claramente este aspecto conservador, sente falta de esperança, de ânimo ou vontade de mudar. Sente impotência e desamparo, e está de que nada pode ser alterado. Ele se sente completamente incapacitado para lidar com as perdas e para sobreviver ao que está acontecendo. Vai entrando em uma mobilização psíquica e física: qualquer ação significativa é afastada com o sentimento de que “não vale a pena”. Este sentimento de futilidade e falta de sentido estende-se para o viver como um todo. O deprimido se recusa a viver!

É fácil perceber então que o mergulho do deprimido na experiência da perda é um sofisticado método para evitar o contato real com a dor da perda. De fato, a reação deprimida busca de fato negar a realidade, de modo a preservar o estado interno anterior. Para Freud, o luto ou a TRISTEZA envolve a aceitação da perda e resulta na decisão de prosseguir vivendo, por outro lado, a DEPRESSÃO trabalha contra uma resolução que capacite a continuar vivendo.

Deste ponto de vista, existe uma relação inversa entre tristeza e depressão. Desde que possamos experimentar tristeza, não se está deprimido e desde que se está deprimido, não se poderá experimentar tristeza. Isto é verdade, pois tristeza é uma reação à aceitação da perda, envolve temporalização, entrada no caminho de possíveis transformações, ao passo que a depressão é sempre negação do movimento, da perda e da transitoriedade de tudo.

Daniela F. Guímaro da Costa é psicóloga

5 comentários:

  1. as vezes confundimos um pouco as coisas ...sendo assim, nada como um profissional para nos esclarecer .

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  2. Parabéns Dani pela iniciativa,que bom que podemos desfrutar do seu saber e nos ajudar a desvendar a confusão que muitas vezes fazemos e sentimos...Boa sorte na sua investida!Abraço

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  3. Toninho, muito dez! É sempre bom ler coisas de qualidade que nos leva a aprender mais.

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  4. NOSSA ME IDENTIFIQUEI NESSE DIÁLOGO E SINTO QUE O MEU CASO É DEPRESSÃO POIS TEM TREZE ANOS QUE PERDI MEU IRMÃO E ATÉ HOJE NÃO CONSIGO SUPERAR A FALTA PARECE QUE ME FALTA UM BRAÇO O QUE DEVO FAZER ?

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  5. Ao Anonimo das 7:43 Procure uma psicoterapia (psicóloga) para te ajudar a elaborar esse luto.

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