Post do Fernando Freitas

Espaço do Nando
Visão apurada

Quem acompanhou o desenrolar das eleições paulistanas com certa neutralidade e imparcialidade, precisa admitir: o prestígio e a visão política de Lula continuam em alta. Quando o ex-presidente praticamente bancou Fernando Haddad para concorrer à prefeitura de São Paulo, muitos petistas questionaram a indicação, sob o argumento do mesmo ter um nome pouco conhecido da população paulistana.

A resistência começou já com Marta Suplicy: a ex-prefeita alegou que sua hipotética candidatura já se iniciaria com 30% das intenções de votos do eleitorado, enquanto Haddad começava com míseros 3%, em seu início de campanha. Lula, porém, argumentou à Marta que os 30% correspondiam não aos votos dela, mas sim, aos votos que o PT costumeiramente tem na capital paulista. O ex-presidente disse ainda para Marta, que em eleições com dois turnos, a rejeição possui mais peso tão relevante quanto à intenção de voto. Marta e Serra possuíam índices de rejeição bastante semelhantes, e em um provável segundo turno entre ambos, corria-se o risco do tucano levar a melhor. E a candidatura de Haddad foi ratificada.

E assim aconteceu: Lula costurou uma aliança contestada pelos próprios petistas com o PP de Paulo Maluf, bem como aconselhou à Dilma que oferecesse um “cala boca” à Marta Suplicy, no Ministério da Cultura. Haddad então foi subindo nas pesquisas, e conseguiu chegar ao segundo turno, desbancando Russomano e terminando a primeira etapa pouco atrás de José Serra. E no fim das contas, não é que a tal rejeição pesou mesmo?

Na etapa complementar do jogo, Lula e Dilma viabilizaram o apoio de corpo presencial do peemedebista e católico carismático Gabriel Chalita nos palanques petistas, e ainda contaram com a neutralidade do terceiro colocado, Celso Russomano. Serra, com aproximadamente 50% de rejeição, não conseguiu, em momento algum, aproximar-se de Haddad nas pesquisas de intenção de voto. Lula apostou na renovação, enquanto o PSDB apostou na tradição. Na campanha, Haddad lembrava, de forma astuta, que Serra abandonou a prefeitura de São Paulo com dois anos de mandato, enquanto que o tucano tentava, sem sucesso, ligar o petista ao mensalão: deu no que deu. O PT, pela terceira vez na sua história, comandará a maior arrecadação municipal do Brasil. De quebra, o partido ainda ganhou as eleições em outros importantes municípios da Grande São Paulo, como Guarulhos, Osasco, Santo André e São Bernardo do Campo, confirmando o seu tradicional bom desempenho na Região Metropolitana. Enfim, Lula pode ser uma figura dissimulada, controversa e questionável; mas que possui visão política extremamente apurada.

Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.