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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Post do Nando


    “Nomes, expressões populares e piadinhas sem graça"   

    O guri e o gari, o astrônomo e o astrólogo, o tarado e o tarólogo, o escritor e o escriturário, o banqueiro e o bancário, enfim, todas as pessoas possuem diferenças entre si; mas uma coisa, nós e eles temos em comum: todos  temos um nome, que geralmente  nos acompanha desde o registro de nascimento até o epitáfio de uma lápide fria em um cemitério.
    Mas como eu não estou aqui para falar de morte, passagem ou transição para o além, vou expor  neste texto como  o brasileiro possui a mania de rotular e estigmatizar tudo, inclusive os nomes próprios. Mas eu peço para que os que possuem os nomes e vivem e as situações que irei relatar abaixo não se sintam constrangidos. Trata-se  apenas uma questão de argumentação, pois eu costumo defender minhas idéias baseando-me em fatos, não em hipóteses ou teorias.
    Perceba que ao longo dos anos, alguns nomes próprios passaram a ter um significado estigmatizante, numa generalização descabida e preconceituosa. Isso se deve ao sucesso de algumas expressões populares, comerciais e músicas, por exemplo.
    Para não alegarem que eu estou zombando apenas  da nomenclatura alheia, vou começar pelo meu nome. Caros leitores, quando eu era criança, e até mesmo na adolescência, sempre aparecia algum engraçadinho com aquela frasezinha manjada e óbvia: “Bonita camisa, Fernandinho!” No começo eu até achava a brincadeira legal, mas com o passar do tempo, aquilo foi ficando muito chato. Tudo isso graças ao comercial da US Top, onde um funcionário puxa saco chamado Fernando, usava uma camisa igual a do seu chefe. Até hoje aparece alguém e me diz essa frase ridícula, bem fora de moda, assim como as camisas xadrez da US Top.
    Agora, se você é mãe zelosa, chama-se “Joana” e cuida bem de sua residência, creio que deva ficar fula da vida com a expressão "casa da mãe Joana". Compreendo tal indignação, pois eu também ficaria bravo com isso.
    Mas partiremos  para uma situação ainda pior : a do pobre coitado que se chama João e tem um braço amputado. Poxa vida, o sujeito já está em uma situação complicada, e aí vem alguém e o taxa de oportunista ou dissimulado.  Não entendo porque  os espertalhões são chamados de “João sem braço”, pois acho a expressão totalmente sádica e sem sentido.
    Mário Lago era um cara fora de série. Escritor, ator, cantor e compositor. Mas aquela que talvez tenha sido sua maior composição musical serviu para estigmatizar as mulheres com nome de “Amélia” como desprovidas de vaidade e exclusivamente dedicadas à vida doméstica. Tudo o que a mulher atual abomina e não deseja para si, inclusive a maioria das mulheres que se chamam Amélia.
    Na contramão das “Amélias”, estão as “Patrícias”, que com o seu nome apelidado no diminutivo, tornaram-se sinônimos de meninas jovens, consumistas e fúteis. Ainda na  linhagem dos diminutivos, também estão os “Maurícios”, sendo que “Mauricinho”, segundo o dito popular, é  aquele sujeito almofadinha, engomadinho e geralmente, exibido. Conheço Patrícias lutadoras e Maurícios que pegam pesado no batente.
   Finalizando, nem todo “Ricardão” cobiça a mulher do próximo, nem sempre é dureza casar-se com a Tereza, assim como a Luzia pode ir tranquilamente atrás da horta, pois isso não significa obrigatoriamente que ela irá se dar mal. Solidarizo-me também com os “Manoéis”, carinhosamente apelidados por “Manés”, que na maioria dos casos, não são tolos, como se diz por aí.
     Taí, gostei de argumentar em defesa desse pessoal, mas sinceramente, não estou vendo uma forma interessante de encerrar este texto. Sinto-me numa situação difícil, numa verdadeira sinuca de bico. E agora, José?
         
                    * Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras

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