quarta-feira, 18 de abril de 2012

Contrastes

Espaço do Nando
CONTRASTES


A vida em uma pacata cidade interiorana é para muitos, considerada monótona, rotineira e demasiadamente tranquila. As horas passam vagarosamente, sendo que de manhã ainda se ouve a buzina anunciando a proximidade do carrinho do vendedor de pães e o cantar dos pássaros. Dependendo do ponto em que se está na cidade, no seu horizonte, avista-se as pastagens verdejantes, deixando nítidos os limites entre a área urbana e rural. Para os mais inquietos, este cenário é uma pasmaceira só. E quando se é jovem, a rotina das pequenas cidades parece ser ainda mais entediante, pois a energia transborda nas veias, sendo que as poucas ocupações e preocupações não dão conta de suprir tanta energia e vitalidade.


É comum e praticamente natural na adolescência, as reclamações de que “não se tem nada para fazer” ou que as “opções de lazer são poucas”. Creio que até nós adultos, compreendemos as queixas dessa galera, exatamente porque já passamos por essa fase da vida. Porém, a maturidade e o conhecimento de novas realidades são, com certeza, agentes transformadores e modificadores de muitos conceitos.


Lembro-me quando fui, há quase sete anos para São Paulo, ficando lá pouco mais de uma semana. Por motivos particulares, na companhia do meu irmão, fizemos por três ou quatro vezes, o deslocamento da Zona Sul até o Centro, tomando um ônibus e um metrô, até local desejado. Até chegarmos ao Terminal João Dias, atravessávamos a pé uma favela, que para a realidade paulistana, até que usufruía de boa infraestrutura, pois contava com a ajuda do trabalho social de uma ONG, mantida por doações vindas da Alemanha. Da janela do ônibus circular, víamos prédios e mais prédios, o céu cinza, anúncios de shows, peças teatrais, jogos de futebol, enfim, todo frenesi da pauliceia desvairada que amedronta, mas que ao mesmo tempo, fascina e seduz.


O contraste com nossa realidade interiorana assemelha-se a um imenso abismo, deliciosamente assustador e surpreendente. Metaforicamente falando, é como se Sampa fosse uma mulher de beleza descomunal, altiva, usando salto alto e dona de um olhar estonteante, ocultando, até certo ponto, suas imperefeições, de tão belo e misterioso que é seu charme hipnótico. E Presidente Venceslau, por sua vez, fosse aquela caboclinha, com olhar faceiro, pouca maquiagem no rosto, com beleza natural e sem mistérios; dona de um sorriso tímido, mas encantadoramente doce, porém, que também expunha em sua face, algumas marcas de sofrimento comuns em tantas cidades pequenas do nosso país.


Bastaram mais quatro ou cinco dias naquela rotina intensa, para notarmos que aquele não era o nosso estilo de vida. Talvez fosse uma questão de habituar-se, saboreando por mais tempo aquele turbilhão de sensações, mas na verdade, não víamos a hora de regressar à nossa terra natal.


Quando, naquela madrugada de regresso, avistamos da janela do ônibus, o letreiro no trevo escrito “Presidente Venceslau”, sorrimos um para o outro. Estávamos de volta ao abraço quente, conhecido e acolhedor da nossa querida “caboclinha”. Porém, sinceramente, compreendo perfeitamente aqueles que se deixaram seduzir pela beleza daquela mulher fatal, à 620 km de distância. Ela também é linda, do jeito dela...


A buzina do carrinho de pães e o cantar dos pássaros que pareciam entediantes em outrora, soaram como uma melodia deliciosíssima de se ouvir, naquela manhã de retorno.


Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.

4 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkk,essa também é minha história e de muitos outros,depois de muitos na capital,aqui regressei e espero que de forma definitiva,amo essa cidade,essa gente e todas as peculiaridades que só Venceslau tem!!!

Anônimo disse...

Perfeita a analogia entre a mulher e a cidade, tá de parabéns!!

Unknown disse...

Não deixa de ser um ponto de vista. Ponto de vista é quase sempre onde o nariz avista.

Anônimo disse...

CONCORDO EM GÊNERO,NÚMERO E GRAU. É ISSO MESMO. E...VENCESLAU...TBM TI AAAAAAAMMMMMMOOOOOOOOOOOOOO.

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