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sábado, 3 de março de 2012

As Aventuras do Homem-Flor

Fernando Olmo
VILÕES DA VILA


Um herói é um indivíduo comum que encontra a força para perseverar e resistir apesar dos obstáculos devastadores.
(Christopher Reeve)


Extrema Vila do Oeste, uma pequena e pacata cidade do interior selvagem. Lugar longe demais das capitais, mas surpreendentemente lindo para viver, contrasta suas qualidades com os supervilões da felicidade, satisfação e simpatia. São eles os apocalípticos: Ar Manda Mundana, Guri, o irado e o temível Homem Estorvo. Esses abomináveis mutantes de opiniões, numa recente reunião decidiram apagar com a alegria, tirando o riso, a vontade de vencer e de ser feliz dos habitantes daquele longínquo lugarejo.
Dona Quitéria alegremente quitava suas dívidas, tudo em dia... Eis que com um olhar 43, dia desses, a maldita Ar Manda Mundana facilmente a desempolgou:


- Olhe pra mim! Eu determino que nada mais quite, Quitéria... Não pague mais ninguém, viu. Eu mando... Eu mando... Pois sou a Ar Manda Mundana...


E, gargalhou largamente para a vítima, que ficou totalmente inadimplente, depois de lançada a maldição:
- Ha... Ha... Ha... Ha... Como eu sou bandida...


Agindo compulsivamente por toda a adjacência, barbaramente deturpava tudo o selvagem Guri, o Irado. Guri, tomado de tamanha ira, apontava covardemente sua desafinada língua felina, sem dó nem piedade, aos pacatos habitantes da Extrema Vila do Oeste. Nessa urbe encantadora, ainda era capaz de tomar pirulitos da mão das criancinhas, deprimia velhinhas indefesas e acabava com a alegria das confraternizações familiares de domingo. Enfim, babava seu fétido ranço a fim de promover a discórdia e botar fogo no mundo. Maligno compositor que era, entoava assim:


- Eu quero ver o oco. Só na mãozada eu deitei seis, mas detestei matar... Eu quero ver o oco...


E todo e qualquer aquele que ouvisse e atendesse sua vociferação atroz, maldiziam adestradamente:
- Eu quero ver o oco... Eu quero ver o oco... O oco... O oco, eu quero ver...


As vítimas, ensandecidas, saiam pelas ruas da cidade espalhando os desleais insultos criados por Guri, o Irado. Tornavam-se mortos-vivos...
- Quem poderá nos socorrer? – gentes surtavam.


E, como se não bastasse, ainda tinha o mais perverso de todos: o Homem Estorvo. Parecia ser uns trinta por ai, mas era apenas um cabeçudinho feioso com uma varinha na mão. As garotas zombavam-no pela varinha ridícula... O que elas não sabiam era sobre a proporção do estrago do apetrecho. Estava ele com a varinha na mão em todo quanto é canto da cidade, ligeiro como um raio, estorvando... Apontava a varinha e zip... zip... zip... Estorvava o jogo de bolinha de gude da molecada, o culto ecumênico [fazendo todo mundo divergir, quebrar o pau no meio da oração e atear fogo na igreja] e descasava os casais recém-casados... Era feio demais e a varinha, um perigo. Em suma, um malévolo absoluto, sem escrúpulos e compaixão... O maior dos tiranos...
O caos estava instalado na Extrema Vila do Oeste. Quem poderia socorrer o povo que só se desentendia, temia e se escondia?


[continua na próxima semana]

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