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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Comidas pesadas ou exóticas

Espaço do Nando
COMIDAS PESADAS OU EXÓTICAS


Sempre disseram-me, injustamente, que eu sou “fresco” quando o assunto é refeição, culinária ou gastronomia. E eu discordo. Digo isso porque se precisar degustar apenas arroz com feijão, o faço de maneira tranquila, lambendo os beiços, dispensando ocasionalmente, a popular “mistura”. Para ser sincero, a eventual ausência de um terceiro ingrediente no prato não me incomoda, e de certa forma, arroz com feijão, já é uma “mistura”; (muito saudável por sinal). Além disso, meu paladar nem é tão exigente, pois sou um apreciador inveterado do popularíssimo ovo frito, como também de praticamente todas as verduras e legumes, com exceção do jiló, que é quase uma unanimidade quanto à sua rejeição.


Mas talvez o que tenha me rotulado como “fresco” com relação ao meu paladar, possivelmente seja minha repulsa pelas tais comidas pesadas, ou então, pratos exóticos. Sim, aquele prato que as pessoas consideram fortes e que dão “sustança”, ou então, aquele tipo de carne nada comum. Nesse segmento culinário, rendo-me apenas aos encantos da feijoada, e olhe lá. Não me apareça com buchada, sarapatel, dobradinha ou mocotó, pois só de escrever esse cardápio no texto, já sinto que ele esteja um tanto quanto “indigesto”. O mais irritante nessa história toda é quando outras pessoas na mesa, ao invés de apenas degustarem os seus respectivos pratos, ficam tentando convencê-lo de aquilo é bom. Puxa vida, pode ser ótimo para elas, mas eu não gosto!


E os argumentos para que se dê a primeira garfada? Esses são ótimos. Vejam o que eu já fui obrigado a ouvir para tentar ser convencido a degustar esse tipo de prato nada convencional:


“Tanta gente passando fome no mundo, e você rejeitando a buchada?”... (como se o fato de eu comer buchada fosse erradicar o problema da segurança alimentar no planeta!);
"Já experimentou para dizer que não gosta”?… (quantos viciados renderam-se a esse tipo de questionamento?);
“Coma essa carne de jacaré, é igual peixe”... (ora, se é igual, então eu como peixe!)
“Nossa, está tão delicioso”...(que bom, vai sobrar mais para vocês, porque eu não quero!)
“Você não vai comer essa carne de porco?”... (nessa hora, vejo que tenho grande afinidade com os judeus!)
“Não acredito que você não come bagos de boi, é gostoso pra caramba!”... (não se contentam em comer o saco do pobre bovino, e ainda querem encher o meu?)


Existe ainda aquele tipo de gente que quer convencê-lo não pela argumentação, mas sim, pela enganação, servindo um prato como se fosse outro. Isso é ainda mais desagradável, pois pode causar constrangimentos na mesa. A verdade é que a hora das refeições é sagrada, devendo prevalecer a harmonia e a democracia. Portanto, aos apreciadores de comidas “pesadas” ou exóticas, entendam que nem todo mundo tem os mesmos gostos. Agradeço a compreensão, sendo que jacarés, rãs, tatus, capivaras e bois ainda não mutilados também agradecem.


Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.

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