Coxão duro a preço de picanha
José
Roberto Dantas Oliva
–
Deu certo? – perguntou a senhora que, havia pouco, estava na fila do açougue do
hipermercado, agora já próxima dos caixas.
–
Não. – respondi, percebendo logo a decepção. – Ainda não desisti – emendei,
notando, porém, seu ar de incredulidade.
Não
é para menos. O consumidor brasileiro anda mesmo conformado e descrente. Não
encontrei mais aquela senhora para contar-lhe o desfecho. Mas, depois de muito
refletir, resolvi escrever sobre o assunto. Espero que ela leia. Ainda que isto
não ocorra, talvez o texto sirva de alerta para consumidores que, como eu,
devem, em algum momento, se indignar.
Foi
no sábado, 6 de Abril de 2013, pela manhã. Antes que meu filho, a noiva e um
casal de amigos chegassem, resolvemos, minha mulher e eu, fazer umas compras
para um churrasco decidido de uma última hora.
Durante
o tempo em que ela conduzia o carrinho de compras, adquirindo outros produtos,
me dirigi ao açougue.
–
O senhor vende picanha fresca, cortada na hora?, perguntei.
–
Não. – respondeu o açougueiro. – Só embalada a vácuo!
Enquanto
ouvia a resposta, corri os olhos pela tabela: “Picanha – Kg – R$ 33,69”. Está
mesmo muito caro, pensei. Comprei tulipas de frango e me dirigi ao setor de
carnes resfriada, ao lado.
Peguei
três peças de picanha que estavam com boa aparência. Cada uma, no entanto,
pesava em torno de 1,5 Kg (talvez alguma um pouco menos). Por diversas vezes já
retirei pedaços da parte mais larga da carne que me foi vendida como picanha e
deixei reservada. Quando necessário, utilizei no final do churrasco, mas, na
maioria das ocasiões, aqueles pedaços ficaram para o jantar ou para o almoço do
dia seguinte, como carne de panela, cozida.
Mas,
pagar por picanha, a esse preço, e levar outra carne? – Decidi que não. Chamei
um trabalhador do estabelecimento, que estava próximo, e perguntei: – Esta
parte aqui, mais larga, não é coxão duro?
–
É! – respondeu ele, honesto mas meio sem graça. – Está parecendo!
A
esta altura, minha mulher já estava ao lado. – Vou reclamar e pedir que retirem
o que tem aqui de coxão duro. Ela ainda tentou me dissuadir, meio envergonhada,
mas percebeu que não ia adiantar e continuou as compras.
Dirigi-me
novamente ao açougueiro. – Vou levar estas três peças! – exclamei. – Mas gostaria
que o senhor retirasse o coxão duro de todas – concluí, para espanto daquele
senhor que, ao que parece, nunca antes havia recebido pedido tão inusitado.
–
Não posso, respondeu ele. – Posso até cortar a carne, se desejar, mas o senhor
precisa levar a peça inteira – sentenciou.
Nesse
momento, já havia voltado meus olhos novamente para a tabela de preços: “Coxão
duro – Kg – R$ 10,99”. Não, definitivamente não! Não é razoável cobrar R$ 33,69
o quilo de picanha e empurrar, goela abaixo do consumidor, carne que custa mais
de três vezes menos. Não ia admitir, uma vez mais, ser ludibriado. O pior é que
isto está se tornando comum, generalizado quase. Não é a primeira vez que me
acontece, pensei.
Resolvi
pedir a opinião técnica do açougueiro. Sabia que ele nada tinha a ver com isto.
Apenas fazia o que lhe determinavam, que o ensinaram. Com certeza nunca
refletiu bem a respeito do assunto. Fui direto ao ponto:
–
Essa parte posterior aqui, não é coxão duro? – mostrei-lhe a carne.
Impressionei-me,
uma vez mais, com a franqueza:
–
É. – respondeu. – Picanha, mesmo, tem em torno de um quilo – decretou.
–
Então! – argumentei – O senhor acha justo eu pagar R$ 33,69 o quilo de picanha
e levar coxão duro, que custa R$ 10,99? – Não estou levando gato por lebre? –
indaguei.
–
Não posso fazer nada – disse-me o açougueiro.
Naquele
momento, a senhora ao lado – aquela, que depois se decepcionou quando estávamos
nos dirigindo ao caixa – se manifestou:
–
O pior é que a gente não entende, e acaba levando.
–
Eu também não entendo muito – consolei-a. – Perguntei e as informações dos
empregados do próprio hipermercado confirmaram minhas suspeitas. Estamos sendo
lesados como consumidores.
Aí,
já não me sentia responsável só por mim mesmo. Havia a necessidade de uma
resposta efetiva a mim, àquela senhora e aos consumidores em geral. Então
prossegui:
–
O senhor pode, por favor, chamar o gerente geral?
–
Claro! – respondeu ele, se dirigindo ao interior do açougue. E retornou
acompanhado. Percebi logo que não era o gerente geral. Foi muito rápido. Mesmo
assim, relatei tudo ao novo personagem que, depois de ouvir atentamente, disse:
–
Infelizmente a peça vem inteira e só podemos vender assim.
Reproduzi
alguns argumentos, mas logo desisti e perguntei:
–
O senhor pode chamar o gerente geral, por favor?
–
Posso – respondeu, confirmando minha primeira impressão. E logo retornou outra
pessoa, um senhor alto. Não era, de novo, o gerente geral, deduzi. Mas, ainda
assim, relatei-lhe todo o ocorrido. Ouviu-me, também de forma atenta, mas o
resultado não foi diferente.
–
Olha, meu senhor, até entendo o seu inconformismo, mas o produto foi adquirido
do fornecedor desta forma e não tem como cortar.
Não
é possível, pensei. Estão querendo mesmo que eu pague picanha e leve coxão
duro. Isto não vai ocorrer.
Deixei
as três peças sobre o balcão frigorífico e adverti:
–
Não vou levar e vou tomar providências. Isto não está certo.
–
Faça o que achar melhor – respondeu-me ele, de forma educada, mas já
impaciente, como se o errado fosse eu.
Depois
que já havia me encontrado com a senhora, que se decepcionou com minhas até
então frustradas tentativas de fazer prevalecer meu direito como consumidor,
chegamos, minha mulher e eu, ao caixa.
Enquanto
colocava os produtos sobre a esteira, solicitei que a trabalhadora pedisse ao
gerente geral que fosse ao local. Já estava passando quase toda a compra e o
dito cujo não chegava. Impacientei-me:
–
Afinal, ele vem ou não?
–
Vou chamar de novo – disse-me ela.
Alguns
segundos depois chegou uma senhora. Seria a gerente geral? – Não, não era. Era
a gerente de plantão. Mas mostrou-se solícita e retornamos ao açougue para
tentar resolver o problema. Finalmente, imaginei.
Qual
nada. Tive a impressão que ao encontrar-se com o gerente do açougue, intimidou-se.
E começou a explicar porque, tendo adquirido do fornecedor daquela forma, nada
poderia fazer.
Exasperei-me
intimamente, mas me contive.
–
Então a senhora me trouxe aqui para perder mais tempo? – indaguei-lhe, sem
conseguir esconder totalmente a irritação.
–
Lamento que o senhor veja assim. Sem dúvida vamos falar com o fornecedor para
tentar evitar o problema. Mas se o produto foi comprado como picanha, tem que
ser vendido desta forma.
–
Não, minha senhora. Se o hipermercado comprou errado, o consumidor não pode
pagar por isto. Se estou comprando picanha, quero levar picanha.
Nisto,
um senhor sereno, de baixa estatura e magro, se aproxima. – O que está
acontecendo, pergunta?
–
Bom, já respondi esta pergunta para quatro pessoas sem solução. Afinal, quem é
o senhor.
–
Eu sou o gerente geral – respondeu. Ufa, até que enfim!
Depois
de ouvir a história que era contada pela quinta vez, determinou:
–
Façam o que ele está pedindo.
–
O senhor quer indicar-lhe o ponto de corte? – perguntou-me resignada a gerente
de plantão, indicando o chefe do açougue que também já estava ao lado. A esta
altura, já me sentia observado por diversas câmeras.
–
Não. – respondi-lhe. – Ele certamente sabe distinguir picanha de coxão duro. E
arrematei para todos:
–
Não se trata só do valor, mas de levar o que estou pagando. Espero que entrem
mesmo em contato com o fornecedor e evitem, de ora em diante, embalar coxão
duro e vender como picanha. Isto lesa o consumidor e está errado.
Além
da promessa de que providências seriam tomadas, recebi de volta a carne com
cerca de 1,5 Kg (acho que até mais) mais leve e pelo preço de R$ 86,79 (por
2,577 Kg, conforme registrado no cupom fiscal). Uma economia de R$ 50,53 se o
peso do descarte estimado estiver mesmo correto ou, pelo menos, de R$ 34,05
caso eu resolvesse levar o coxão duro pelo preço que dele deveria ser cobrado (R$
50,53 - R$ 16,48 [R$ 10,99 x 1,5] = R$ 34,05).
O
mais importante, porém, foi que me comportei como um consumidor consciente dos
meus direitos. Saí dali com a sensação do dever cumprido. Quando todos fizerem
isto, os abusos cessarão ou, pelo menos, não serão cometidos de forma tão
escancarada, como se tudo fosse normal.
Espero
que estas linhas sirvam de alerta e motivem, inclusive, mais pessoas a se
insurgirem.
José Roberto Dantas Oliva é cidadão que quer ver respeitados seus direitos de
consumidor
18 comentários:
Belo exemplo... está certíssimo! E que aula de português, hein! Como escreve bem nosso amigo!!
- Se isso acontece com Vossa Senhoria, que é um Juiz de Direito, imagine então os milhões de assalariados deste país que vivem o dia a dia e são obrigados a ENGOLIR o que principalmente o GOVERNO EMPURRA GOELA ABAIXO.
Fantastico Zé eu tb já passei por isso e fiz o meu direito prevalecer, ou seja, o Direito de Consumidor, as pessoas devem sempre tomar essa providencia, pois esse hipermercados acham que são os donos do mundo, e vc sem precisar se manifestar como autoridade, resolveu o problema, é disso que a população precisar lutar por seu direito, abraços, eu ja te admirava agora então...
história muito bonita, mas apenas uma gota no oceano jamais fará diferença ou outros irão compartilhar um bate boca e perda de tempo; tudo pode ser resumido em se tiver como pagar compre, se não tiver não compre; ou como opção deveria ir a outro local; parece até história de pessoas querendo R$ 0,01 de troco em loja de R$ 1,99, pois nem banco tem tais moedas.
E quando o abuso é cometido por um juiz, reclamo com quem???
Num país de tantas desigualdades e tantos outros problemas que deveríamos nos insurgir contra, tais como: corrupção, p. ex.
É louvável a atitude como cidadão e consumidor, mas não é disso que a sociedade precisa para vê-la melhorada.
Humildemente digo:" Estou descrente num povo tão pacato". Como pode ocorrer condenções em última instância (mesmo sabedor que os recursos cabíveis são juridicamente legais) e ninguém ir preso; um ex-presidente (na verdade ainda o é), que diz "não saber de nada" das falcatruas de seus ministros subordinados e o povo acredita (ou acredita ou não faz nada), como pode existir um banco com dinheiro público (BNDES) financiar estádio de futebol enquanto a educação, segurança, saúde e tudo mais vai caminhando ladeira abaixo para um abismo sem fim. Como pode?
Chegamos num ponto que a sociedade está doente. Por inteira está tomada pela lei de "GERSON". Com certeza, digo com certeza infelizmente, o açougueiro, o chefe do açougue e a gerente de plantão não mudaram seus conceitos de honestidade. Reparem no texto a descrição da impaciência do chefe do açougue, como se pensassse: "que cara folgado, pão duro".
Pergunto: E o restante das peças de picanha com coxão duro? Foram vendidas para outras pessoas que não entendem de carne?
Como pode eu sofrer de raiva por ter comprado picanha (ou coxão duro sei lá) no mesmo mercado (eu acho), e não ter reclamado. A sensação de ter sido passado para trás chega ser engraçada!!
vai um joão ninguém fazer isso são capazes de chamar a polícia para prender o reclamante.
Quero enaltecer a atitude do Sr. José Roberto, antes de magistrado ele é um cidadão, certamente não se valeu da sua função pública para intimidar as atitudes; gostaria que todos cidadão participassem mais ativamente do processo democrático, pois, os poucos que "brigam" por nossos direitos, muitas vezes são considerados chatos, mala, insuportáveis, enfim recebem os mais negativos adjetivos, sendo que deveriam ser ovacionados.
"TODA VEZ QUE UM JUSTO GRITA,UM CARRASCO VEM CALAR...QUEM NÂO PRESTA FICA VIVO...QUEM É BOM MANDAM MATAR...MAIS OU MENOS ASSIM...BRASIL..
Um CONSUMIDOR ser tratado com todo respeito que o CIDADÃO merece, é o "SONHO DE CONSUMO" de todo SER HUMANO. Lutemos por isso, que as coisas hão de mudar.
EXIJO SEMPRE OS CENTAVOS SIM,MESMO CONTRA REAÇÕES INDIGNADAS DE PROPRIETÁRIOS(MERCADO EM VENCESLAU).A LEI DIZ QUE SE NÃO TIVER TROCO,EM TODOS OS CASOS,MAS POR EXEMPLO, DE CENTAVOS(1,2,3,4 CENTAVOS),QUE SEJA ARREDONDADO SEMPRE PARA BAIXO,O QUE NÃO ACONTECE.SE O PREÇO OU O VALOR FINAL INDICAR,POR EXEMPLO,NO CASO ACIMA CITADO DE 1,99,O CORRETO É COBRAR 1,95 E SE NÃO TIVER MOEDA DE 5 CENTAVOS,COBRE 1,90,E ASSIM SUCESSIVAMENTE,MAS SEMPRE EM FAVOR DO CONSUMIDOR.
MAS É COMO ESCREVI EM POSTS ANTERIORES,DIANTE DE TAIS COMENTÁRIOS É PATENTE DIZER QUE A IGNORÂNCIA ESTÁ CAUTERIZADA NA MENTE DA GRANDE MASSA.SÓ FALTOU ESCREVEREM O BORDÃO DA TORCIDA DAQUELE TIME DE FUTEBOL:"VAI.......".
eu não tenho essa paciência e educação,pois teria chamado a polícia ou o orgão competente para resolver esta situação que assola o consumidor.{a nobreza vem do berço e admiro a decisão do do senhor Jose Oliva}
O DAS 11H39, PELA TACANHEZ DE SUAS PALAVRAS, DEVE TER COMÉRCIO E EM VENCESLAU:..."SE TIVER COMO PAGAR COMPRE,SE NÃO TIVER NÃO COMPRE".
O sr. se postou como um consumidor, mas como um juiz federal tem que levar o caso adiante para que autoridades do Ministério da Agricultura e Abastecimento tomem as devidas providências contra este fornecedor, ou o sr. pode correr o risco em sua consciência de ter cometido prevaricação. Só lembrando, será que esse fornecedor não é a maior industria de carne do mundo onde o BNDS é o seu maior acionista?
ao comentarista das 11:39h
voce esta muito enganado, felizmente não tenho comércio em venceslau, aqui pouca coisa vai adiante.
e nunca fui nem pretendo ser tacanho, pois quando desejo ou quero alguma coisa eu compro e não fico vendo preços; alias quando vou ao mercado só vou colocando no carrinho o que eu quero e nem olho para preços e ao passar pelo caixa só me interessa o total que pago com a maior satisfação; não sei se sua situação pode ser igualmente a minha, mas cada um é cada um, sou aposentado e só ganho R$ 14.000,00 por mes, convenhamos que é uma miséria.
Ao comentario da 23:33
R$ 14.000,00 é uma miséria??????
Kkkkkkkkkkkkk vou até rir dessa sua piada, pq cara, tu ta mal de vida heim, queria ver vc sobreviver com um salario por mês, bem pretencioso msm, merecia ficar na miséria pra largar de ser idiota!
PIOROU ,VC(11:39),AS SUAS PALAVRAS EVIDENCIAM ISSO, NÃO É SÓ TACANHO,MAS TAMBÉM UM GRANDE PARVO.
Trouxa, ganha 14.000,00 e leva gato por lebre.
Trouxa, tacanho e parvo.
Daqui de Santos eu lamento que um imbecil (que ganha menos do que eu) como voce circule por Pres.Venceslau.
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