Espaço do Nando
Solidariedade e gratidão
Trabalhei no terminal rodoviário de Presidente Venceslau por cinco anos, na agência de uma empresa de ônibus. E admito que daquele lugar carrego boas lembranças, assim como lições de vida das quais não me esqueço. Sobre a maior delas, resolvi escrever no texto de hoje:
Era de manhã, em um dia qualquer do meio da semana. O horário era bem próximo das 10h 25 min, quando o ônibus que iria para Rosana, com baldeação em Teodoro Sampaio, seguiria seu destino ao extremo oeste do Pontal do Paranapanema. A poucos minutos do embarque, eis que aparece em minha frente um senhor abatido, com roupas modestas e uma mochila nas costas. Disse-me que havia acabado de receber alta da Santa Casa de Presidente Venceslau, e que estava ansioso para regressar à Primavera, onde morava. Continuou a história alegando que estava sem dinheiro, pedindo para que eu lhe emitisse o bilhete rodoviário. Prometeu me ressarcir já no dia seguinte, enviando o pagamento do “empréstimo” no ônibus de volta, através do cobrador da linha.
Com certa desconfiança, eu disse que ele poderia ligar para algum parente lá em Primavera, para que o mesmo pudesse efetuar o pagamento na agência de lá, autorizando sua viagem. Ele continuou argumentando, dizendo que o trâmite o faria perder tempo, e provavelmente, perderia também o ônibus que estava prestes a sair. E ele tinha razão quanto a isso. O outro ônibus que partiria para aquelas redondezas sairia no mesmo dia, porém, somente às 15h 30 min. E para quem havia acabado de sair de uma internação, chegar o quanto antes em casa, era praticamente uma necessidade.
Nos poucos minutos que faltavam para o embarque, olhei nos olhos do homem e percebi sinceridade em suas palavras. Ele, com certeza, não era uma dessas pessoas que se aproveitavam da ingenuidade alheia. Emiti o bilhete, e ele agradeceu rapidamente, descendo, com pressa, em direção à plataforma.
No dia seguinte, perguntei ao cobrador se alguém havia me enviado algum dinheiro. Nada. No dia posterior, a mesma pergunta e a mesma resposta. A confiança de outrora, já havia ruído, e eu estava me acostumando com a ideia de ressarcir o caixa da empresa com dinheiro do meu próprio bolso. Eis que no terceiro dia seguinte ao fato, o cobrador me entrega um envelope. Nele, estava o dinheiro da passagem e uma carta escrita com erros de português, que não tiravam a beleza do texto escrito, justificando o atraso no envio do dinheiro, mas falava, principalmente, de gratidão e solidariedade. Peguei o dinheiro e o repus no caixa da empresa, convicto de que mesmo com a dúvida inicial, havia tomado a decisão correta.
A lição que assimilei desta história? Percebi que uma boa ação pode trazer mais satisfação para quem ajuda, do que necessariamente, para quem é ajudado. Aquela pessoa, certamente não apareceu em minha frente à toa: Deus o colocou no meu caminho para me proporcionar aprimoramento e crescimento, enquanto ser humano.
Fernando Freitas é Funcionário Público Estadual e escreve às quartas-feiras.
7 comentários:
ESSA LINDA HISTÓRIA PODE SER TBM ENVIADA À REVISTA "SELEÇÕES DO READER'S DIGEST",QUE SERÁ COM CERTEZA,PUBLICADA.
linda historia e muito bem contada.
Emocionante. Ainda tem gente boa , de coração bom e de confiança nesse mundo.
Amigo você já recebeu a recompensa.
Parabéns pela atitude, confiar é um ato difícil nos dias de hoje, mas você teve a oportunidade de confiar em alguém e pode ter certeza sempres estará no coração desse senhor. Que Deus lhe dê em dobro e sucesso.
Infelizmente no mundo em que vivemos estas estórias são cada vez mais raras. Emocionante (solidariedade + honestidade).
Por essas e outras que te admiro.
mas pra pagar uma coxinha pra gente lá era um sacrifício danado heim...ainda mais se tivesse tubaina junto kkkkk
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